"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sexta-feira, 13 de maio de 2016

sobre Michel Temer


Estou doente.
Estou muito doente.
E
estava sendo tratada
por um médico legítimo.
Acontece
que meu médico
estava errando feio,
em procedimentos vitais
do meu longo tratamento.
Por isso, eu estava morrendo.
Além disso,
enquanto eu piorava,
ele também cometia outros atos
de cunho ético (absolutamente) questionável.
E, pra piorar, não reconhecia
que eu estava caminhando
para o óbito.
Sua preocupação era,
única e exclusivamente,
permanecer sendo meu médico.
Ao
se dedicar,
integralmente,
a lutar por sua permanência,
ele me abandonou à minha sorte.
E eu, piorando.
Me aproximando do fim.
Minha família,
meus amigos e vizinhos
brigavam, à porta do hospital.
Mas havia dúvidas.
Mudar de médico
seria a melhor conduta?
Até que,
a Diretoria do Hospital
(em cujos interesses não confio)
se reúne e diz que é preciso que ele saia.
Continuo insegura.
Mas,
também,
continuo morrendo.
A essa altura,
o Sindicato Hospitalar,
que tem um pinguinho a mais
de credibilidade comigo,
confirma a decisão.
Será?
Preciso de mais subsídios,
para ter certeza de que mudar é o caminho.
Acontece que,
em função das questões
de condutas éticas inaceitáveis,
o Supremo Conselho de Médicos,
entidade reconhecida pela sociedade,
como a autoridade máxima, nessa área,
valida as decisões das duas instâncias anteriores.
Reconhece que meu médico cometeu delitos
e afirma, claramente, a necessidade
do seu afastamento imediato
de suas funções.
Mas aí,
surge pra mim,
um novo problema.
No organograma oficial
do hospital, em cuja U.T.I.
estou, fatalmente, agonizando,
com uma Septicemia generalizada,
o médico que vai assumir meu caso
é um profissional, em quem não confio.
Que droga!
Eu queria um médico perfeito.
Competende, habilitado e
de caráter inquestionável.
Com certeza,
esse senhor não representa nada disso.
Mas estou morrendo.
E a Constituição dos Hospitais
prevê que, nesse tipo de circunstância,
é esse o médico que tem que substituir o titular.
Ok.
Aceito.
Não tenho opção.
Confio que,
minimamente,
nem que seja para se provar,
ele vai lançar sobre mim, um novo olhar.
Por
disputa,
dissidência,
vaidade, orgulho,
interesse pessoal?
Que seja.
Minha morte está à porta.
Que venha o novo médico!
O meu,
enquanto eu piorava
se desconectou de mim
e estava nas ruas, fazendo campanha,
para provar que é um ótimo profissional
e que este outro, não passa de um usurpador.
Decido que não tenho alternativa.
Acolho o médico que não escolho.
Minha outra opção é a morte iminente.
Independente das motivações,
ele vai mudar meu tratamento.
Fico sabendo que
meu antigo médico está irado.
Não se conforma por ter sido afastado.
Em seus
discursos magoados,
nem reconhece a gravidade
(a profunda gravidade) do meu caso.
Continua tentando mostrar,
com uma veemência perversa,
que sofreu uma traição descabida.
E,
em tom de ameaça,
promete fazer `o diabo´
para se opor ao meu novo tratamento.
Nem quero mais ouvir.
Escolho desqualificar
suas falas magoadas
e tentar viver.
Penso que
eu é que deveria
estar magoada com ele.
Ele se comporta como traído,
mas eu é que fui, literalmente, mal tratado.
Entendo,
nessa hora, que
aceitar esse médico,
do qual eu não gosto
e cuja biografia não compõe
meu acervo pessoal de admiração,
é minha única chance de sobrevivência.
Não há outro médico disponível.
E o meu,
jogou no lixo
toda a sua credibilidade.
Então,
para que
a morte não se instaure,
que venha o outro médico.
Antes que a vida, não mais me repare!

Louise Madeira