Eu fui PT! Empunhei
bandeiras, colei adesivos, fiz campanha, fui a comícios, usei broches que eu
mesmo comprei. Eu sei de cor os jingles das campanhas do Lula, eu me irritei
com as seguidas derrotas, eu gritei fora Collor, fora FHC e até fora Globo.
Chamei o plano real de golpe, falei que o bolsa escola era forma de o governo
comprar votos dos mais pobres.
Eu fui PT, porque eu tinha que ser! Eu sou um
trabalhador e não um democrata, um liberal, um comunista... Então partido do
trabalhador era o lugar do cara que teve que trabalhar para pagar faculdade e
sabia que teria que continuar trabalhando duro para comprar a sua casa, para
pagar o seu carro, para pagar as suas viagens.
Eu fui PT por ideologia e
não fisiologia. Não ganhei um centavo, não viajei de graça, não estudei de
graça e nem acho graça nas coisas de graça. Eu nunca achei golpe o pedido de
impeachment do Collor e nem os diversos pedidos manejados contra Itamar e FHC.
A Constituição atribui a representantes eleitos pelo povo a função de processar
e julgar o presidente e eu acho isso extremamente democrático.
Eu fui PT no ano de 2002,
eu enviei cartões de natal para os meus queridos amigos com a frase: “a
esperança venceu o medo”. Eu estava trabalhando na madrugada daquele natal.
Eu fui PT e se as redes
sociais existissem naquela época eu compartilharia textos não do Jean Willis ou
da Jandira, porque eu li Hélio Bicudo, Cristóvão Buarque e Fernando Gabeira...
e eles não são mais PT.
Eu fui PT até quando deu
para ser. Até o dia em que o T de trabalhador foi substituído pelo T de trapaça,
de trambique e porque não de traição! O partido dos trabalhadores se agarrou ao
poder e abraçou Renan, Sarney, Collor e até o Maluf. Criou fantasias e contou
mentiras, soltou a mão de pessoas honestas e sérias e foi aí que eu deixei de
ser PT.
Eu deixei de ser PT e me
surpreendo com você que contesta o fato de o Cunha ser o condutor do
impeachment, mas jamais contestou o fato dele Cunha ser um dos elos da aliança
entre o governo e o PMDB. Eu deixei de ser PT e me decepciono com você que
acusa Temer de ser golpista e bandido, mas jamais contestou o fato dele, Temer,
ser desde o primeiro mandato o vice-presidente escolhido por Dilma.
Eu deixei de ser PT e me
assusto com você que ao ouvir uma gravação não comenta o conteúdo, simplesmente
afirma que a escuta foi ilegal. Que diante de uma delação pautada em provas,
limita-se a falar em vazamento seletivo, que perante evidências de fraude,
corrupção e outros crimes, ataca a imprensa, a polícia e o juiz.
Eu deixei de ser PT e me
envergonho de você que aplaude políticos processados, julgados e condenados que
entram de punho erguido na cadeia como se fossem vencedores e não ladrões. Que
afirma que o mensalão não existiu, que não há escândalo da Petrobrás, que não é
dono do sítio, nem de apartamento e que nunca soube de nada, que afirma que não
há crime em uma prática absolutamente ilícita só porque ela já foi feita por
outros.
Eu deixei de ser PT e me
incomodo com você que vai a manifestações da CUT, cheias de balões, camisetas
vermelhas, enormes palcos, tendas, militantes pagos, tudo custeado com dinheiro
obrigatoriamente sacados de salários de trabalhadores todos os anos com o nome
de Imposto Sindical.
Eu deixei de ser PT e eu não entendo você que fala em
defesa da democracia e afirma que pode ser golpe a decisão de um congresso
eleito pelo povo. Que fala em voto livre, mas aceita a compra de parlamentares
com cargos e dinheiro.
Eu deixei de ser partido,
continuo trabalhador... e você?
Texto de Márcio Augusto
Costa