Participando de um
seminário sobre comportamento, foi dito que as mulheres estão de tal forma
cansadas de suas múltiplas tarefas e do esforço para manter a independência que
começam a ratear: andam sonhando de novo com um provedor, um homem que as
sustente financeiramente.
Não acreditei. Outro dia
discuti com uma amiga porque duvidei quando ela disse estar percebendo a mesma
coisa, que as mulheres estão selecionando seus parceiros pelo poder aquisitivo
não só as maduras e pragmáticas, mas também as adolescentes, que ainda deveriam
cultivar algum romantismo.
Então é verdade? Pois me
parece um retrocesso. A independência nos torna disponíveis para viver a vida
da forma que sonhamos, sem ter que “negociar” nossa felicidade com ninguém, e
são poucos os casos em que se pode ser independente sem ter a própria fonte de
renda (que não precisa obrigatoriamente ser igual ou superior a do marido). Não
é nenhum pecado o homem pagar uma viagem, dar presentes, segurar as pontas em
despesas maiores, caso ele ganhe mais – é distribuição de renda.
Mas se é ela que ganha
mais, a madame também pode assumir o posto de provedora sênior, até que as
coisas se equalizem. Parceria é uma relação bilateral. É importante que ambos
sejam autossuficientes para que não haja distorções sobre o que significa
“amor” com aspas e amor sem aspas.
As mulheres precisam
muito dos homens, mas por razões mais profundas. Estamos realmente com
sobrecarga de funções – pressão auto-imposta, diga-se –, o que faz com que
percamos nossa conexão com a feminilidade: para ser mulher não basta usar saia
e pintar as unhas, essa é a parte fácil.
A questão é ancestral:
temos, sim, necessidade de um olhar protetor e amoroso, de um parceiro que nos
deseje por nossa delicadeza, nossa sensualidade, nosso mistério. O homem nos
confirma como mulher, e nós a eles. Essa é a verdadeira troca, que está difícil
de acontecer porque viramos generais da banda sem direito a vacilações, e eles,
assustados com essa senhora que fala grosso, acabam por se infantilizar ainda
mais.
Podemos ser independentes
e ternas, independentes e fêmeas – não há contradição. Estamos mais solitárias
porque queremos ter a última palavra em tudo, ser nota 10 em tudo, a
superpoderosa que não delega, não ouve ninguém e que está ficando biruta sem
perceber.
Garotas, não desistam da
sua independência. Façam o que estiver ao seu alcance, seja através do trabalho
ou do estudo, em busca de realização e amor próprio. Escolher parceiros pelo
saldo bancário é triste e antigo, os tempos são outros. É plausível que se
procure alguém com o mesmo nível intelectual e social, com um projeto de vida
parecido e com potencial de crescimento – mas para crescerem juntos, não para
garantir um tutor.
A solidão, como
contingência da vida, não é trágica, podemos dar conta de nós mesmas. Mas,
ainda que eu pareça obsoleta, ainda acredito que se sentir amada é que nos
sustenta de fato.