A corrupção dentro da Petrobras é só a ponta do iceberg – ou
alguém acredita que em outras empresas, sejam estatais ou privadas, não
acontece o mesmo?
A corrupção no Brasil é um câncer que infelizmente não é
terminal, porque não termina.
Porém, o foco hoje está na Petrobras, está no governo em
vigência, está no momento presente, e isso divide o país. Se a corrupção
estivesse sendo combatida como um mal comum a todos os partidos e a todos os
segmentos da sociedade, talvez resgatássemos a humildade e nos mobilizássemos
em busca de uma cura coletiva, mas virou uma guerra partidária. E aí sobra
ofensa para tudo que é lado.
O toma lá dá cá de acusações reflete a infantilidade da nossa
“consciência política”. Não queremos um país melhor, queremos ter razão. Analisar
o problema de forma mais ampla? Não combina com nosso sangue quente. Decretar
como inimigo a nossa própria índole está fora de cogitação.
Alguém devolve ao dono um dinheiro que encontrou na rua e
vira matéria de jornal. Prova da deformação dos nossos valores. O que era pra
ser trivial, aqui é raridade. Deixar o carro numa rua escura e retornar
encontrando-o no mesmo lugar? Ir até um posto de saúde e ser atendido na hora?
Ser educado por um professor bem pago? Tudo um “case”. O normal é o errado.
Diante de tanto errado para pouco certo, a gente não se une.
A gente se desune, brigando uns contra os outros, ofendendo, ridicularizando,
humilhando, baixando o nível da convivência. A democracia estimula a
divergência de opiniões, sustenta o diálogo entre posições conflitantes a fim
de encontrar um senso comum ou, na impossibilidade deste, um senso que
represente a maioria, mas temos nos valido da democracia para xingar, insultar.
É o Estado democrático autorizando nossa falta de educação.
Ok, às vezes, para defender nossas ideias, acabamos
denegrindo quem pensa diferente. Acontece. Porém, tenhamos mais cautela e
controle: a ofensa é o recurso de quem não tem nada a oferecer além de
agressividade.
Troquemos a ofensa por argumentos. Coloquemos nossas
divergências para dialogar. O que vem acontecendo é espetacular, máscaras
caindo, mas entendamos que o Brasil precisa deixar o sentimentalismo de lado e
agir de forma conjunta e adulta. O mais importante é garantir à nova geração
que a impunidade acabou – os políticos e empresários de amanhã têm que começar
a ter medo de roubar. Somado a isso, é urgente aprovar medidas concretas para
moralizar tudo o que envolva dinheiro. Reduzir ao máximo o “me ajuda que eu te
ajudo”.
Manifestações, críticas, desabafos, discordâncias, postagens
indignadas ou bem-humoradas fazem parte do processo de reflexão e colaboram na
mudança de mentalidade. Mas não esqueçamos que a guerra é contra a corrupção –
que é apartidária.