Carla Bruni, ex-top
model, cantora, compositora e primeira dama da França entre 2008 e 2012,
declarou em entrevista, que seu casamento com o presidente Nicolas
Sarkozy foi muito rocknroll, usando uma expressão pouco usual para definir um
relacionamento. Geralmente, as relações amorosas estão mais para tango
argentino.
A comparação com o rock
veio do fato de ela, que sempre teve uma vida agitada, independente e fora dos
padrões, ter se atrevido a um envolvimento formal com um chefe de Estado, cuja
convivência exige o cumprimento de protocolos bem convencionais.
E a recíproca é
verdadeira, pois não são muitos os mandatários de uma nação que se divorciam e
depois se casam com uma artista que já é mãe e que tem no currículo namorados
como Eric Clapton e Mick Jagger. Às favas com o bom-mocismo, o casal bancou o
arranjo inusitado e parece levar muito bem sua relação.
O conceito “rock’n’roll”,
ao menos da forma como foi utilizado por Carla Bruni, nada tem a ver com
noitadas, bebedeiras e drogas. Diz ela que sua rotina com o marido é bastante
tranquila e discreta, e o que a fez se apaixonar por Sarkozy foi a descoberta
de que ele, um dos homens mais poderosos do mundo, era um dedicado amante da
jardinagem. Como se explica esse bolero em lugar do heavy metal?
Por muito tempo, o rock
sobreviveu de sua má fama. O músico Frank Zappa certa vez disse que um repórter
de rock é um jornalista que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe
falar, para pessoas que não sabem ler. Ajudou a colocar uma laje sobre qualquer
sofisticação que o rock viesse a almejar – ainda bem que o rock nunca teve essa
pretensão, mas teve outras e parece que as realizou.
O rock’n’roll deixou de
ser apenas um gênero de música. Dizer que ele simboliza atitude virou um clichê
intragável, mas foi o que Carla Bruni tentou exprimir com sua declaração, só
que sob um enfoque ampliado.
A rebeldia do rock nada
mais tem a ver com cortes de cabelo, modos de vestir ou hábitos ilícitos, e sim
com o que lhe amparou os primeiros passos, lá atrás, nos tempos de Chuck Berry
e Elvis Presley: a liberdade de fazer o que se quer, a despeito do que os
outros vão pensar. Criar música não só para a alma, mas para o corpo. Provocar
reações físicas, despertar os ânimos, desafiar o silêncio. Acordar.
Não é preciso guitarras
para fazer barulho. As pessoas mais roqueiras que conheço são apreciadoras de
jazz, bossa nova e música clássica. Um casamento rock’n’roll nada mais é do que
um compromisso entre um homem e uma mulher com facilidade em aceitar mudanças,
coragem para sair das zonas de conforto, capacidade de surpreender e
autoconfiança para ser quem verdadeiramente são, estejam no palco em que
estiverem.
É por isso que o rock,
até então um substantivo que designava um estilo musical, expandiu-se.
Analisado como postura de vida, foi promovido a adjetivo.
#dia do rock!