Já foi moda fumar. Já foi
moda ser gordo. E tem gente que acha bonito ser anoréxico. Pergunto-me como é
que essa insanidade coletiva se prolifera? Será que um indivíduo começa e os
outros, por falta de originalidade, copiam? Uma incógnita que muitos autores
procuram responder em seus livros de autoajuda.
Porém, trazendo aos
nossos dias de hoje, a moda agora é não ter tempo. Essa é a insanidade coletiva
do momento. É bonito ser uma pessoa atarefada. Pelo menos passa a impressão de
empenho, de produtividade. O que não é nem um pouco verdade, mas é o que
modismo ditou e todos responderam "Amém".
E quando chega dezembro
então, correr vira uma obrigação social. Se você encontrar alguém que não
esteja atarefado, com a agenda cheia ou louco para o ano acabar, pode abraçar
porque este é sujeito anormal. Provavelmente esta pessoa é alguém mais evoluído
que a maioria, alguém que já transcendeu às agruras do século XXI e sabe viver
sem se deixar levar pelo consenso coletivo.
Dezembro é realmente
atípico, isto nós não vamos conseguir mudar. São confraternizações,
encerramentos, despedidas, compras, bebidas, comidas, presentes. Só de falar já
ficamos cansados. Tudo que não foi resolvido, discutido, controlado ou feito
durante o ano, procura-se fazer dentro do mês de dezembro. Desde os afazeres
mais simples até a caridade. Tivemos 11 meses para fazer e não o fizemos. E no
final do ano temos o descaramento de dizer que vamos fazer tudo em mês.
Dizem que se soubéssemos
o dia de morrer, viveríamos intensamente até o nosso penúltimo dia. Fim de ano
parece com isso. É como se, sabendo que ano vai acabar, embarcamos todos numa
corrida louca para dar a volta em nossos mundos em 30 dias. Parece uma gincana
da vida real. Todos correndo para entregar no dia 31, o prêmio de execução do
ano para si mesmo. Alguns até conseguem, embora deixem no caminho mortos,
feridos e descompensados. Mas a grande maioria morre na praia e acaba jurando
que, no próximo ano tudo vai ser diferente.
Talvez sejam essas nossas
juras platônicas de conversão que fazem de nós eternos mentirosos. Se pararmos
de prometer que vamos melhorar, quem sabe não iniciamos uma melhora sem
compromisso? Basta sairmos da onipotência de acharmos que temos que dar conta
de tudo, que somos os melhores, que ninguém é capaz de fazer melhor que nós.
Pode ser um pequeno começo para uma grande mudança. Só é preciso tentar.