"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

sempre em dezembro



Já foi moda fumar. Já foi moda ser gordo. E tem gente que acha bonito ser anoréxico. Pergunto-me como é que essa insanidade coletiva se prolifera? Será que um indivíduo começa e os outros, por falta de originalidade, copiam? Uma incógnita que muitos autores procuram responder em seus livros de autoajuda.

Porém, trazendo aos nossos dias de hoje, a moda agora é não ter tempo. Essa é a insanidade coletiva do momento. É bonito ser uma pessoa atarefada. Pelo menos passa a impressão de empenho, de produtividade. O que não é nem um pouco verdade, mas é o que modismo ditou e todos responderam "Amém".

E quando chega dezembro então, correr vira uma obrigação social. Se você encontrar alguém que não esteja atarefado, com a agenda cheia ou louco para o ano acabar, pode abraçar porque este é sujeito anormal. Provavelmente esta pessoa é alguém mais evoluído que a maioria, alguém que já transcendeu às agruras do século XXI e sabe viver sem se deixar levar pelo consenso coletivo.

Dezembro é realmente atípico, isto nós não vamos conseguir mudar. São confraternizações, encerramentos, despedidas, compras, bebidas, comidas, presentes. Só de falar já ficamos cansados. Tudo que não foi resolvido, discutido, controlado ou feito durante o ano, procura-se fazer dentro do mês de dezembro. Desde os afazeres mais simples até a caridade. Tivemos 11 meses para fazer e não o fizemos. E no final do ano temos o descaramento de dizer que vamos fazer tudo em mês.

Dizem que se soubéssemos o dia de morrer, viveríamos intensamente até o nosso penúltimo dia. Fim de ano parece com isso. É como se, sabendo que ano vai acabar, embarcamos todos numa corrida louca para dar a volta em nossos mundos em 30 dias. Parece uma gincana da vida real. Todos correndo para entregar no dia 31, o prêmio de execução do ano para si mesmo. Alguns até conseguem, embora deixem no caminho mortos, feridos e descompensados. Mas a grande maioria morre na praia e acaba jurando que, no próximo ano tudo vai ser diferente.

Talvez sejam essas nossas juras platônicas de conversão que fazem de nós eternos mentirosos. Se pararmos de prometer que vamos melhorar, quem sabe não iniciamos uma melhora sem compromisso? Basta sairmos da onipotência de acharmos que temos que dar conta de tudo, que somos os melhores, que ninguém é capaz de fazer melhor que nós. Pode ser um pequeno começo para uma grande mudança. Só é preciso tentar.