O que aconteceria se o
homem, aqui vale o homem normal, a média dos homens -aquele cara simples,
tarado por mulher, cerveja e futebol – gostasse tanto da sua amada como gosta
do seu time do peito?
Seria uma revolução.
Mudaria tudo. Tudo mesmo. Repare:
Para começar, o macho
jamais deixaria a sua fêmea. Nunca, never. Homem que é homem muda de sexo mas
não muda de time.
Mesmo quando ela se
sentisse a pior das criaturas, por baixo mesmo, mesmo quando ela blasfemasse
aos céus e se queixasse ao espelho que estava gorda e autoestima despencara.
Muito pelo contrário.
Isso seria motivo para aumentar ainda mais o amor e até para renovar a paixão,
com garantia eterna de fidelidade, como ocorre quando o time do homem cai para
a Segundona do campeonato –“Eu nunca vou te abandonar, Corinthians”.
Se o homem gostasse da
mulher pelo menos 50% como ama o seu time, nem uma bola nas costas, uma
traição, como uma derrota incompreensível, seria motivo para o fim do
relacionamento. No futebol, assim como no amor, tudo seria perdoável.
Se o macho normal
gostasse da cria da sua costela como quem aprecia um Flu, um Fla,um São Paulo,
um Peixe, um Palmeiras, um Bahia, um Santa Cruz, um Galo, um Grêmio, arranjaria
tempo para ir com ela ao cinema ou jantar fora pelo menos duas vezes por semana
–no mínimo empataria com o tempo que dedica ao clube.
Apreciasse sua mulher
como é chegado ao futebol, o sujeito trocaria pelo menos uma mesa-redonda na tv
por um conversa com a dama. Em vez da crise no Vasco, tentaria entender a
derrota que virou seu casamento.
Se o Cruzeiro anda tão
bem, brilha na dianteira do firmamento, por que não melhorar também,
amigo, a posição na tabela no jogo
dentro e casa? Deixar tudo mais celeste, o amor azulzinho em um céu de
brigadeiro?
Não sejamos exagerados.
Bastaria dedicar 30% do que se devota ao time do peito. Teríamos uma mudança
radical na vida dos casais.
Imagina se o torcedor do
Goiás, caro Rogério Bueno, cantasse assim para a namorada, como canta para o
time esmeraldino: “Pra vencer tem que ser guerreiro/ Pra te ver sou sempre o
primeiro…”
O cara é capaz de morrer
por um triunfo do Furacão, do Coxa ou do Sport, o cara chora pelo Botafogo, o
cara come toda a água do planeta pelo Vitória, o timbu deixa o lar doce lar
para ir sofrer em São Lourenço da Mata…
Se o homem gostasse tanto
da sua mulher como gosta do seu clube o domingo seria outro. Quando o time
fosse derrotado, ele se confortaria no amor e no sexo da princesa. Não é o que
acontece. A desgraça no futebol o inviabiliza na cama. É batata.
No caso da mulher doente
por futebol, mesmo uma corintiana, creio que a relação seja outra. Na alegria
ou na tristeza clubística, ela é a mesma. Consegue separar o desejo com o amado
do placar domingueiro.
Como diria meu amigo Nick
Hornby, não há termômetro que entenda o macho e essa febre de bola.
__por Xico Sá