Uma não substitui a
outra; uma não é melhor do que a outra. Ambas são indispensáveis, cada uma em
seu ambiente de trabalho.
Ouvi em algum lugar que o
número de empregadas domésticas tem diminuído de ano a ano no Brasil. É uma boa
notícia. A oferta de empregos aumentou e essas profissionais estão buscando
colocação em outros setores, onde possam ganhar mais e alinhavar um plano de
carreira. Pode ser bom inclusive para seus empregadores, que terão que se
adaptar a um novo estilo de vida: eles próprios farão os afazeres domésticos,
convocando a família inteira para colaborar. Ninguém morre se tiver que cozinhar
e lavar uma louça, e me parece digno que os filhos entrem nesse mutirão, se
preparando melhor para a vida. Hoje não mexem um dedo porque tem uma Maria que
faz tudo por eles.
Pois a Maria, segundo
estatísticas, não quer mais ser empregada doméstica, e sim ter um status mais
elevado. Quem sabe, ser uma secretária. Muitas pessoas chamam suas empregadas
de secretárias, na boa intenção de prestigiá-las. Acho estranho. Então devemos
chamar as verdadeiras secretárias de quê? Empresárias?
Pessoas que promovem
verbalmente suas funcionárias acreditam estar valorizando-as, mas parece o
contrário: demonstram que ser empregada doméstica não é honroso, a ponto de
fingirem que elas são outra coisa. Se eu me referisse à minha empregada como “secretária”,
creio que estaria revelando desdém a sua real função. Seria o mesmo que chamar
o peão-de-obra de engenheiro ou a garçonete de chef de cozinha. Um upgrade de
mentirinha.
Algumas empregadas
domésticas ainda não são totalmente alfabetizadas. Não dominam o uso do
computador. Não controlam a agenda profissional de seus patrões. São exímias
cozinheiras, arrumadeiras, braços direitos das famílias, mas não fazem o que
uma secretária faz. Assim como secretárias podem não saber fritar um ovo e nem
passar direito uma camisa. Uma não substitui a outra. Uma não é melhor que a
outra. Ambas são imprescindíveis, cada uma em seu ambiente de trabalho.
Se a palavra “empregada”
parece pejorativa, pode-se chamá-la de funcionária, que é o que ela é também.
Já chamá-la de secretária apenas expurga a culpa do patrão, que não quer
parecer um senhor do engenho, do tipo que tem escravos. Ou seja, ele se utiliza
de um eufemismo para provar que respeita todos os direitos trabalhistas da sua
funcionária.
Nem se dá conta de que esse pudor com a palavra empregada talvez
desmereça as profissionais que tiveram a chance de estudar mais e que fizeram
cursos preparatórios para trabalhar numa empresa e não numa casa de família.
Secretárias não fazem trabalho doméstico, e sim de escritório. Apesar de eu
nunca ter lido nenhuma pesquisa a respeito, tenho a impressão de que elas devem
se sentir desconfortáveis ao verem as duas funções confundidas.
Eu, às vezes, me
confundo. Outro dia me disseram: vou te levar lá em casa para provar o suflê de
queijo que a minha secretária preparou. Logo pensei: coitada, fazendo hora
extra.
#dia da empregada doméstica