Minha querida sogra Ana
Maria me mostrou, dia desses, alguns velhos álbuns de fotografia dos pais dela.
Eram fotos em preto e branco, já meio desgastadas, em que várias pessoas da
família apareciam. Então, confirmei algo que sempre reparo, quando vejo esse
tipo de foto: antigamente, as pessoas não sorriam para a câmera.
Dê uma olhada em livros
de história que tenham fotos. Você verá que ninguém ria para o fotógrafo dos
anos 50 para trás. Faço até uma sugestão para você comprovar o que digo com
seus próprios olhos. Tenho cá a coleção História da Vida Privada no Brasil. O
volume 3 é: República: da Belle Époque à Era do Rádio. Há dezenas de fotos nas
mais de 600 páginas deste tomo, talvez centenas. Só em duas o personagem
fotografado aparece sorrindo: uma moça índia e um menino sentado em um balanço.
Por que isso? Minha tese
é de que, nos nossos dias, a felicidade é superestimada. As pessoas dizem a
todo momento: “Eu só quero é ser feliz”. E, sobre seus filhos, enfatizam: “O
que importa é ele ser feliz”.
Pois vou lhe dizer uma coisa, alegre leitor: eu quero que o meu filho seja feliz, é evidente. Mas, mais do que isso, quero que ele MEREÇA a felicidade. Quero que ele se torne um homem digno de usufruir o que a vida oferece de bom.
Essa ideia talvez seja
antiga, talvez seja do tempo das fotos que me apresentou minha amada sogra,
quando as pessoas tinham mais deveres do que direitos. Porque hoje a felicidade
não é mais vista como uma consequência. Ela é um valor em si. A pessoa tem de
estar satisfeita, tem de estar sorrindo sempre, a vida dela haverá de ser uma eterna
festa, ela tem de estar “bem na foto”. Se não for assim, as outras pessoas
pensam que algo está errado com ela.
Nas redes sociais, onde
as pessoas mais expõem suas vidas, a felicidade transborda. E o amor também,
sobretudo no Instagram das jovens. Uma moça publica uma foto e as amigas postam
comentários com declarações de amor. É o que elas dizem umas para as outras: “Te
amo”. Sério. Ou então: “Linda!” “Deusa!” “Perfeita!” “Maravilhosa!”
Não consigo entender como o mundo não é mais justo e bom, se há tanto amor envolvido nos relacionamentos. Será que é falsidade? Será que é cinismo? Eu, em todo caso, decidi: não sorrirei mais nas fotos. Nem no Instagram, aquele reino da alegria. Chega de frivolidade. Serei sério e grave, como os tempos que vivemos.