"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



segunda-feira, 2 de setembro de 2019

“de repente, não mais que de repente”


De repente, começaram a me chamar de senhora. Rótulos e bulas de remédio ficaram ilegíveis e eu, que nunca usei óculos, passei a usar um multifocal. Pra completar, na minha cabeceira apareceu um livro da Jane Fonda.

Envelhecer não é para os fracos. Ainda mais num país em que a palavra soa como um crime. A pessoa faz aniversário e já sai tentando arrumar uma identidade falsa.

Acontece que, em 20 anos, seremos um país com mais idosos do que crianças. Feliz de quem estiver disposto a lidar com o amadurecimento com mais humor e alegria.

Na próxima semana, eu faço 59 anos, entro oficialmente no meu 60º ano de vida. E, quer saber? Estou adorando. Me sinto mais inteira e nunca tive tantos planos. “Mas você tá bonitona”, me disse um amigo. Repare quanto preconceito numa frase. Por que será que é tão difícil associar envelhecimento e beleza?
Acho que tudo é uma questão de ponto de vista. Ninguém vai querer me convencer de que só existem vantagens.
(...)

E não tem essa de dizer que “não tenho mais 20 anos”. Tenho todas as idades em mim. A vida está mais leve e menos dramática. Finalmente sei escolher as batalhas que valem a pena. Aprendi com o tempo a optar pelo simples.

Faço o que posso para me sentir melhor, mas estou certa de uma coisa: o que envelhece mesmo é essa obsessão pela juventude.

Amadurecer é aprimorar a capacidade de discernir as coisas e, por que não, a flexibilidade para mudar de opinião, coisa que faço hoje com um pé nas costas – não literalmente, claro.

Quantas vezes teimei em mudar o outro. Quero mais é transformar a mim mesma e deixar para trás a obrigação de provar qualquer coisa pra qualquer um. Se meu corpo não é mais tão flexível, minhas ideias nunca o foram tanto.
Demorei 59 anos pra chegar aqui. Agora eu quero é aproveitar.


(modificado)