De repente, começaram a
me chamar de senhora. Rótulos e bulas de remédio ficaram ilegíveis e eu, que
nunca usei óculos, passei a usar um multifocal. Pra completar, na minha
cabeceira apareceu um livro da Jane Fonda.
Envelhecer não é para os
fracos. Ainda mais num país em que a palavra soa como um crime. A pessoa faz
aniversário e já sai tentando arrumar uma identidade falsa.
Acontece que, em 20 anos,
seremos um país com mais idosos do que crianças. Feliz de quem estiver disposto
a lidar com o amadurecimento com mais humor e alegria.
Na próxima semana, eu faço 59 anos,
entro oficialmente no meu 60º ano de vida. E, quer saber? Estou adorando. Me
sinto mais inteira e nunca tive tantos planos. “Mas você tá bonitona”, me
disse um amigo. Repare quanto preconceito numa frase. Por que será que é tão
difícil associar envelhecimento e beleza?
Acho que tudo é uma
questão de ponto de vista. Ninguém vai querer me convencer de que só existem
vantagens.
(...)
E não tem essa de dizer
que “não tenho mais 20 anos”. Tenho todas as idades em mim. A vida está mais
leve e menos dramática. Finalmente sei escolher as batalhas que valem a pena.
Aprendi com o tempo a optar pelo simples.
Faço o que posso para me
sentir melhor, mas estou certa de uma coisa: o que envelhece mesmo é essa
obsessão pela juventude.
Amadurecer é aprimorar a
capacidade de discernir as coisas e, por que não, a flexibilidade para mudar
de opinião, coisa que faço hoje com um pé nas costas – não literalmente,
claro.
Quantas vezes teimei em
mudar o outro. Quero mais é transformar a mim mesma e deixar para trás a
obrigação de provar qualquer coisa pra qualquer um. Se meu corpo não é mais
tão flexível, minhas ideias nunca o foram tanto.
Demorei 59 anos pra
chegar aqui. Agora eu quero é aproveitar.
(modificado)