Se a poligamia fosse lei, nada seria fácil. Alegria em
excesso desanda em embriaguez e termina em ressaca e dor de cabeça. O prazer em
dobro triplica a incomodação. Imagine vocês, mulheres, com a possibilidade de
se casar com dois homens. Marmanjo junto é máfia de criança. Eles ficariam na
sala jogando videogame nas folgas, gritando, bebendo cerveja e pedindo mais uma
revanche.
Voto minoritário na programação, perderia o comando da tevê,
não contaria com a complacência para assistir a seriados e filmes românticos.
Seus dois maridos seriam melhores amigos, alimentariam segredos entre si e
responderiam tudo de maneira monossilábica para evitar discussões. Restaria o
chuveiro para chorar. A privada nunca teria a tampa abaixada, os frascos e as
garrafas jamais estariam bem fechados, as bandejas de gelo morreriam vazias.
Os homens de casa fariam aquelas porquices masculinas –
arroto, flatulência, palitos e cotonetes sujos em lugares improváveis – e
passariam o dia impunes porque estariam em maioria dentro da residência.
Uma toalha molhada na cama irrita, agora ponha duas em
sequência e os lençóis formarão um repentino banhado. Pense o que seria dirigir
um carro com dois copilotos palpitando sobre o melhor caminho ou pressionando
para estacionar numa vaga do tamanho de uma bicicleta?
Raciocine a frustração de aparecer com corte novo no cabelo e
nenhum dos dois reparar a mudança. Mentalize o constrangimento de dissuadir
sexo ao despertar com dois homens excitados roçando suas pernas quando você
ainda nem escovou os dentes ou tomou café da manhã.
Pois é. O paraíso mora dentro do inferno.
Agora sonhem vocês, homens, com a chance de subir ao altar
com duas mulheres ao mesmo tempo.
O que significaria contentar duas sogras? Aguentaria almoçar
na casa de uma no sábado e depois em outra no domingo? Sabe o desespero que é
quando uma mulher não consegue hora com sua manicure? Pois preveja duas não
conseguindo um encaixe e entrando em pânico.
Multiplique a demora para sair a uma festa, tem paciência?
Acompanharia a dupla pelo rali dos provadores dos shoppings? Onde deixará suas
roupas ao dividir o armário com duas mulheres? Na despensa da cozinha? Dentro
de uma mala debaixo da cama?
Se é uma maratona fazer uma mulher gozar, como satisfazer
duas? Não poderia pregar os olhos antes de cumprir a tabela. E não invente de
adiar o prazer de uma delas para o dia seguinte sob o risco de difamação.
Seria obrigado a decorar duas datas de aniversário, de início
de namoro, de primeiro beijo, de primeiro abraço, de primeiro jantar, de
primeira festa, afora peculiaridades de gostos e tamanhos da roupa. E nunca
poderia confundir a com b, o que geraria uma crise ciumenta sem precedentes.
Casado com duas mulheres, gastaria metade de seu tempo
curtindo e comentando as fotos delas nas redes sociais. E ai se visualizasse
uma mensagem no whatsapp e não respondesse no ato. Ou se respondesse uma e
esquecesse a segunda.
A exclusividade é um luxo. Não reclame de monogamia. Não é à
toa que o Carnaval só dura quatro dias.