"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sexta-feira, 18 de setembro de 2015

travessia


Toda manhã, levo você à escola. Andamos dois quarteirões e, na esquina anterior, coloco a mochila finalmente nas suas costas e o estimulo a atravessar a rua sozinho. Você confia que possa ir. 
De coração trêmulo, eu treino a entrega. Sem segurar na sua mão, aviso: “Não vá ainda, espere esse carro passar”. 
O fluxo dos carros naquela rua não muito movimentada por vezes se assemelha à maré alta. E você, como todo menino, tem pressa. Temo por você, mas sei que não vou poder estar ao seu lado o tempo todo. 
É preciso preparar-se para seguir sozinho – tanto eu como você, filho.

Em minha vida, tantas vezes tento atravessar , acredito que aquela é a hora e acabo atropelada. O sentido figurado me salva. Queria ter alguém que me dissesse: “Agora não”; “Agora, sim, pode ir”. Mas sou eu mesma o alicerce. E ele bambeia.