Toda manhã, levo você à escola.
Andamos dois quarteirões e, na esquina anterior, coloco a mochila finalmente
nas suas costas e o estimulo a atravessar a rua sozinho. Você confia que possa
ir.
De coração trêmulo, eu treino a entrega. Sem segurar na sua mão, aviso: “Não vá ainda, espere esse
carro passar”.
O fluxo
dos carros naquela rua não muito movimentada por vezes se assemelha à maré
alta. E você, como todo menino, tem pressa. Temo por você, mas sei que não
vou poder estar ao seu lado o tempo todo.
É preciso preparar-se para seguir
sozinho – tanto eu como você, filho.
Em minha vida,
tantas vezes tento atravessar , acredito que aquela é a hora e acabo
atropelada. O sentido figurado me salva. Queria ter alguém que me dissesse:
“Agora não”; “Agora, sim, pode ir”. Mas sou eu mesma o alicerce. E ele bambeia.