Dizem: quando nasce um bebê, nasce uma mãe também. E um polvo. Um restaurante delivery. Uma máquina de chocolate prontinho. Uma mecânica de carrinhos de controle remoto. Uma médica de bonecas. Uma professora-terapeuta-cozinheira de carreira medíocre. Nasce uma fábrica de cafuné, um chafariz de soro fisiológico, um robô que desperta ao som de choro. E principalmente: nasce a fada do beijo.
Quando nasce um bebê, nasce também o medo da morte – mães não
se conformam em deixar o mundo sem encaminhar devidamente um filho.
Não pense você que ao se tornar mãe uma mulher abandona todas
as mulheres que já foi um dia. Bobagem. Ganha mais mulheres em si mesma. Com
seus desejos aumentam sua audácia, sua garra, seus poderes. Se já era
impossível, cuidado: ela vira muitas. Também não me venha imaginar mães como
seres delicados e frágeis. Mães são fogo, ninguém segura. Se antes eram
incapazes de matar um mosquito, adquirem uma fúria inédita. Montam guarda ao
lado de suas crias, capazes de matar tudo o que zumbir perto delas:
pernilongos, lagartas, leões, gente.
Mães não têm tempo para o ensaio: estreiam a peça no susto.
Aprendem a pilotar o avião em pleno voo. E dão o exemplo, mesmo que nunca
tenham sido exemplo. Cobrem seus filhos com o cobertor que lhes falta. E, não
raro, depois de fazerem o impossível, acreditam que poderiam ter feito melhor.
Nunca estarão prontas para a tarefa gigantesca que é criar um filho – alguém
está?
Mente quem diz que mãe sente menos dor – pelo contrário! Ela
apenas aprende a deixar sua dor para outra hora. Atira o seu choro no chão para
ir acalentar o do filho. Nas horas vagas, dorme. Abastece a casa. Trabalha.
Encontra os amigos. Lê – ou adormece com um livro no rosto. E, quando tem tempo
pra chorar – cadê? -, passou. A mãe então aproveita que a casa está calma e vai
recolher os brinquedos da sala. “Como esse menino cresceu”, ela pensa, a
caminho do quarto do filho. Termina o dia exausta, sentada no chão da sala,
acompanhada de um sorriso besta.
Já os filhos, ah… Filhos fazem a mãe voltar os olhos para
coisas que não importavam antes. O índice de umidade do ar. Os ingredientes do
suco de caixinha. O nível de sódio do macarrão sem glúten. Onde fica a
Guiné-Bissau. Os rumos da agricultura orgânica. As alternativas contra o
aquecimento global. Política. E até sua própria saúde. Mães são mulheres
ressuscitadas. Filhos as rejuvenescem, tornando a vida delas mais perigosa – e
mais urgente.
Quando nasce um bebê, nasce uma empreiteira. Capaz de cavar a
estrada quando não há caminho, só para poder indicar: “É por ali, filho,
naquela direção”.
(texto lindo, que dedico ao “meu bebê” que, há 29 anos, me faz sentir todas essas sensações)
Parabéns
pelo seu aniversário, filho!
Que você
continue sendo iluminado pelo amor de Deus.
Eu estarei
sempre aqui, torcendo muito por você e pra você.
Com todo amor do mundo...