“Dize-me o que comes, e direi quem és”, afirma o velho
ditado. Em outras palavras, a comida moldaria a personalidade.
Se for verdade,
tem muita gente encrencada.
Seriam os vietnamitas e chineses venenosos, pois
gostam de aguardente curtida em cobras e escorpiões jogados vivos dentro da
garrafa?
Os mexicanos e tailandeses, com suas pimentas piores que fogo,
passariam por infernais? Como o chucrute, cujo efeito intestinal não é lá dos
mais agradáveis, marcaria os alemães?
Os ingleses, com aquela horrível torta de
rim, que consequências sofreriam? Teriam um humor “horrímvel”?
O que dizer dos
árabes, apreciadores do olho de carneiro ingerido cru, que estoura na boca
igual jabuticaba? Formariam eles um bom time de olheiros?
A fama que os
franceses gozam de correr em disparada diante do exército inimigo resultaria de
seu cardápio com carne de cavalo?
Nós, brasileiros, amantes de uma feijoada,
com que cara ficaríamos?
Ah, sim, ia me esquecendo. Temos, em Minas Gerais, o pão de
queijo. Estamos ligados qual mel e abelha.
Quando querem falar mal da gente,
acusam-nos de República do Pão de Queijo. Quando nos adulam, elevam nosso
acepipe à categoria de revelação divina.
Políticos em campanha presidencial
alçam a quitanda ao nível da buchada de bode, que juram degustar com enorme
prazer.
E depois nos apunhalam.
“Dize-me o que comes, e direi quem és.” Seria mesmo verdade?
Então, que personalidade o pão de queijo nos reserva?
Ele nos faz cordatos,
conciliadores, reservados, como gostamos de nos descrever?
Posto de outra
forma, ser mineiro é gostar de pão de queijo?
Nada disso!
As Minas são muitas e os mineiros têm a diversidade da espécie humana. Sim, há gente apaziguadora, mas
há inflamados.
Há os que dão um boi para evitar briga e os que não dão nem o
berro do boi para fugir dela.
O número de tradicionalistas talvez equivalha ao
de rebeldes.
Como em todo lugar, possuímos políticos honestos e corruptos. Sim,
Minas é o mundo, sempre foi.
Prova disso são os presidentes do Brasil aqui nascidos nas
últimas décadas, todos com certeza devoradores de tão elogiada e difamada
iguaria, porém com personalidades diferentes. Ou teriam Juscelino, Tancredo,
Itamar e Dilma tratos semelhantes, a ponto de culparmos o pão de queijo pela
coincidência?
O ditado é falso, portanto. Na verdade, dize-me o que comes,
e não saberei quem és. Ainda bem. Privacidade é tudo.
Podemos continuar
apreciando, sem culpa nem consequência, o pão de queijo saindo do forno com um
expresso bem forte ou um cafezinho coado na hora.
Hummm... O mundo ainda se
curvará ao nosso gosto.
Cá entre nós, pois os mineiros nos entendemos bem, mas
que ninguém nos ouça: eita trem bão, né?
Luís Giffoni
#dia do pão de queijo