Peguei a foto e observei. Ela tinha
38 anos. A bordo de um vestido preto decotado e elegante, parecia uma
embaixatriz moderna, uma mulher do jet set, e ele, a seu lado, aos 40, usava
terno e gravata e tinha alguns poucos fios grisalhos no cabelo, apenas o
suficiente para emprestar uma maturidade charmosa ao look. Ambos poderiam estar
em um anúncio da grife Giorgio Armani ou numa festa em Montecarlo. Seus
sorrisos largos e peles bronzeadas indicavam uma vida de atividades ao ar livre
e programas culturais. Eles adoravam ir a concertos e ao teatro — tudo indicava
que teriam uma longa e divertida vida pela frente, e de fato tiveram e ainda
têm. Mas eu, no canto esquerdo da foto, espiando com o rabo de olho para aqueles
dois, lembro bem: só pensava em como eram velhos meus pais.
Ah, a ingênua soberba dos 15 anos.
Recordo aquele baile onde nós três fomos fotografados juntos: eu e meus pais
matusaléns. Em minha completa ingenuidade e ignorância, acreditava que
juventude era uma calça azul e desbotada e que ninguém era mais livre e sábio
do que nós, os de menor. Os campeonatos de surfe na Guarita, a piscina do
Juvenil, os shows no Gigantinho, do que mais precisaria uma adolescente
alienada para querer parar o tempo e ser feliz para sempre? Ficava apavorada
com a ideia de me tornar uma anciã como aqueles dois senhores a quem, naquela
noite já distante, eu vi dançarem com uma desenvoltura que me fez cobrir o
rosto com as mãos. Que mico, meus pais ainda vão pra pista nesta idade.
Hoje reparo que minhas filhas me
dirigem um olhar atravessado quando uso um vocabulário vintage e penso que
elas, da mesma forma, devem me enxergar como um fóssil do Tiranossauro rex. Ou
talvez não. Talvez elas tenham outra visão da passagem do tempo e, ao me verem
ir a shows de rock, viajar com uma mochila nas costas, namorar e ainda fazer
planos para o futuro, compreendam que não existe mais juventude e maturidade
delimitadas, um antes e um depois. Temos idades diferentes, mas espíritos muito
similares. Otimismo meu?
Sendo moças adultas, posso confiar no
discernimento delas, mas aos 15, ah, aos 15 víamos nossos pais envoltos num tom
sépia, cheirando a naftalina e tendo um comportamento totalmente sem noção. Se
eles ousassem transparecer alguma jovialidade, eram tachados por nós de
ridículos. Adolescentes adoram achar tudo ridículo.
Até que os adolescentes crescem,
atingem a meia-idade que um dia seus pais tiveram e, ao olharem para fotos de
uma época em que eles pareciam uns cacos, se dão conta: eles eram umas
crianças. Demora até aceitarmos que fomos criados por pessoas tão jovens e
aventureiras quanto nós.