"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

poema de natal



Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos 

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

  

Assim será a nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos 

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve

Ver a noite dormir em silêncio.

  

Não há muito que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez, de amor

Uma prece por quem se vai 

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações se deixem

Graves e simples.

 

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre 

Para a participação da poesia 

Para ver a face da morte 

De repente nunca mais esperaremos

Hoje a noite é jovem

Da morte, apenas nascemos

Imensamente.