(Encontros
e Despedidas – Milton Nascimento)
Estamos vivenciando uma das épocas mais significativas do ano. O Natal e o Ano Novo são, para a maioria das pessoas, um momento de estar com a família e com amigos queridos. Não podemos esquecer que a essência do Natal está justamente no partilhar de afetos com aqueles que amamos.
Contudo, o Natal, mais
especificamente, também pode ser um momento desconcertante e dificílimo de ser
vivenciado, principalmente para as famílias que sofreram a perda, recente ou
não, de um ente querido, pois esta época também é de nostalgia e recordações.
Podemos ser invadidos por uma enxurrada de emoções e sentimentos diante da
ausência de alguém que amamos.
Depois que perdemos
alguém, achar sentido nas datas comemorativas pode ser algo demorado e
dolorido. Parece que o natal é um amplificador de perdas.
Pode ser o seu primeiro
natal e passagem de ano sem a pessoa que você ama ou pode ser mais uma data
muito significativa sem ela. A sensação é de ausência, é de vazio é de solidão.
A sensação é de não pertencimento, parece que estamos vivendo em uma época que
não nos pertence mais. Uma parte de nós foi embora, uma pessoa primordial na
minha existência, não está comigo mais e não será a mesma coisa mesmo! Após a
perda de alguém uma transformação interna acontece e isso é inevitável.
Permita-se sentir a dor.
Permitir talvez seja a palavra-chave. Permita-se sentir tristeza num momento em
que todos estão alegres, afinal você está vivenciando a ruptura de um vínculo.
Aceite seus pensamentos e sentimentos. Não tente racionalizar emoções tão
fortes. Elas ocorrem porque perdemos, fisicamente, alguém que amamos, mas esta
pessoa ainda está viva em nossos pensamentos e memórias.
Dê espaço para o seu
sofrimento, ele é seu. Respeite o seu tempo. Se quiser ficar sozinha, fique. Se
quiser ficar ao lado dos familiares que estão ali, fique! O primordial é você
se respeitar, respeitar o seu coração e se acolher.
Com o passar do tempo,
que é de cada um, vamos percebendo que a celebração familiar é algo muito
importante, mesmo a ausência e a dor estando ali presentes. Ao mesmo tempo em
que sinto a dor da ausência sou grata por amar tanto e sou grata também às
pessoas que ainda estão presentes na minha vida.
Uma perda nos ensina a
valorizar a vida. Faz-nos pensar que precisamos celebrar a vida dos que amamos
e que estão presentes. Depois que experimentamos a dor do luto, o medo de
outras perdas ficará evidente e o que podemos fazer é estarmos presentes na
vida dessas pessoas. Pode parecer estranho falar isso, mas com o passar de
muito tempo, percebemos que aprendemos muito com as perdas, cada uma trás um
novo significado e uma nova reflexão porque nos transformaremos em outras
pessoas. Ficamos feridos e a única opção que temos é encarar essa dor de
frente. Perceberemos que se continuarmos a manter o foco na perda, não conseguiremos
participar e celebrar a vida das pessoas que estão à nossa volta.
O Natal será para todo o
sempre diferente depois de uma perda significativa. Faz parte do processo de
luto compreender as emoções que estas datas nos proporcionam e, na medida do
possível, se reorganizar emocionalmente para vivenciá-las. A morte de uma
pessoa querida implica necessariamente numa profunda mudança de paradigmas em
nossas vidas e na forma como vamos continuar a caminhada.
Talvez você encontre uma
nova forma de vivenciar estes momentos, pois a elaboração do luto passa pela
assimilação da ausência com a celebração com aqueles que estão vivos e fazem
parte da nossa existência.
Enfim, acredito que o
primordial é permitir-se. Faça aquilo
que fizer sentido para você e te trouxer um significado.
E toda dor passa? A
resposta é sim. A dor insuportável vai embora e dá lugar a uma saudade
suportável, apesar de existirem períodos de altos e baixos, o sofrimento pode
diminuir ao ponto de virar uma lembrança boa.
“O que a memória ama, fica eterno.”
(Adélia Prado)