Imagine uma poltrona
feita especialmente para você. Ela é tão confortável que você poderia passar
horas ali, só curtindo o aconchego. Essa poltrona está no meio de uma sala nem
muito grande nem muito miúda, mas do tamanho ideal para que o ambiente consiga
te abraçar. Você se sente bem, porque daqui a pouco um encontro maravilhoso
deve acontecer.
Ali, na sua frente,
existe uma tela, que, lentamente vai sendo ligada, revelando nada mais nada
menos do que… uma outra você. Só que essa outra é uma versão de meses atrás,
bem no mês de janeiro, fazendo planos para o ano que você quis que fosse o
melhor até então. Um letreiro começa a surgir na tela, você presta atenção
naquela frase ganhando forma, e o que parece ser o título de filme vem à tona:
“Então é Natal, e o que você fez?”
A linguagem do filme é um
tanto estranha. As cenas correm, se misturam umas na outras. Mas aquela bagunça
de imagens faz sentido e você entende que o filme não é sobre uma vida
perfeita, até porque nem sempre esteve impecável no papel de protagonista. Mas
o filme é sobre todas as faces da beleza que envolvem a vida — muito bem representadas pelos cortes
bruscos que davam o tom exato.
Então você se assiste
vendo TV com sua família, depois se vê caminhando na rua; de repente olha para
o nada antes de dormir. Agora, conversa com seu amor, essa cena se repete
várias vezes — do trabalho, você fala por mensagem, desabafando; você está na
cozinha, pensa alto, sorri; e em seguida há uma passagem de tempo na qual você
se encontra na mesma posição, dessa vez com a feição um pouco abatida. O
cenário muda, é hora de acordar. Dentro do carro você pensa na vida; na volta,
pensa mais ainda. No fim do filme, você está na ceia de Natal, apreciando a
massa que você mais gosta, porque é simples de preparar. Tente vislumbrar o
visual da personagem: não é o mesmo da cena inicial, ela não está radiante,
embora não tenha sinal de tristeza na sua expressão. A sensação que paira na
sala é que a jornada dela foi cumprida, acontecendo dia após dia, devagarzinho.
Bem como foi acesa, a
tela agora vai escurecendo e você continua encarando o espaço em que, instantes
atrás, era reproduzido o filme do seu último ano. O fim não era bem um fim.
Algum expectador poderia ter achado sem sal aquela final aberto a
interpretações, mas você sabe que aquele desfecho era justo e coerente. O
último bloco da história justificava o primeiro. Deu tudo certo!, você pensou.
Envolvida pela delícia daquele sofá, se deliciando em silêncio, você enxerga as
coisas com mais clareza, com uma visão ampla a respeito de tudo que esse ano
levou e trouxe até você.
Primeiro você lamenta
pela história inteira. Depois, se desculpa por não ter pegado leve consigo
mesma — afinal, os resultados não dependiam só da mocinha. Em seguida, você se
sente grata por tantas experiências que agora fazem parte de você. Por fim,
você entende que amou o filme. E que no próximo ano, a continuação dele deve
ser ainda mais emocionante. Porque, parando para pensar, em 2018 você fez muita
coisa.