Enquanto ele me contava sua história, eu ia lembrando outras histórias semelhantes, em especial a de uma amiga que teve os e-mails devassados pelo marido. O que foi descoberto? Apenas que ela conversava com um ex-namorado. Claro que havia no ar um clima amistoso de quem já dividiu lençóis e lembranças, mas não estava acontecendo nada. Eram provocações, insinuações, enfim, as inofensivas seduções das quais adultos se valem quando querem se divertir – redes sociais são parques de diversões. Alguns não sabem a hora de saltar do brinquedo e se atrapalham, porém outros conseguem manter a suavidade da troca erótica sem provocar fissuras em seu status oficial.
Até que alguém desconfiado e ciumento crônico invade o que
era para ser privado. Eu continuava escutando meu amigo contar sua história.
Ele tinha feito a maior burrada da vida: entrado no Facebook da namorada. Ela
era seu grande amor, mas ele não havia gostado do jeito maroto com que ela
havia cumprimentado um sujeito num bar e foi corroído por uma imaginação mortal.
Em um dia que ela foi viajar, ele aproveitou para rastrear suas conversas
inbox. Não encontrou nada que a condenasse, a não ser o conhecido tom jocoso
que muitas vezes usamos em bate-papos particulares. Quando ela retornou de
viagem, olhou para ele calmamente e disse adeus. Nem deixou que ele explicasse.
Já estava sabendo que ele havia vasculhado sua correspondência.
Meu amigo estava desnorteado. Perguntava: você acha que eu
ainda tenho chance com ela? Pouca. Não apenas porque ele havia sido invasivo,
mas também porque a invasão dele fez a namorada sentir-se envergonhada da
própria frivolidade e das emoções incoerentes que regem a ela e a todos nós,
mesmo quando já somos maduros. O namorado a enxergou despida de um jeito que
ninguém poderia.
Não foi o flagra de uma traição, que afinal não havia, e sim
o flagra da carência existencial que poucos superam, e de uma vaidade também
sem controle. Podem não ser qualidades honrosas, mas são absolutamente humanas.
Se alguém está se sentindo inseguro com seu par, que pergunte
diretamente a ele sobre o que está acontecendo e conforme-se com a resposta. Se
não se conformar, separe-se, pois ninguém merece viver torturado pela dúvida.
Separar é uma saída mais digna do que bisbilhotar: encontrando ou não as pistas
que busca, o fim do relacionamento será iminente, pois um limite foi
transposto. Tentar trazer à tona, na marra, os segredos e fantasias do outro, é
violar um espaço que pode não ser belo, mas é sagrado.
Meu amigo aprendeu a lição, mas terá que testar esse aprendizado
com seu amor futuro.