Passar a vida inteira sem uma loucura por amor é o equivalente a não viver. Em algum momento, precisa dispensar as suas reservas e os seus pudores e mergulhar na coragem que é se entregar, mesmo que não tenha a devolução de sua história, mesmo que seja necessário recomeçar do zero, sozinho e endividado.
Ganha tudo quem se arrisca a perder tudo.
Loucura por amor é atravessar o mundo por alguém, é mudar de
uma cidade por alguém, é trocar de emprego por alguém, é se reinventar por
alguém. O que sugere submissão é prova de personalidade, pois não existe o medo
de deixar de ser diante das novas experiências.
O que adianta viver sem nunca quebrar a régua, sem nunca dar
um passo em falso? O passo em falso é a única chance que temos de voar.
As oportunidades desperdiçadas não voltarão a se repetir. A
ocasião faz o herói.
Saber o que é necessário e não ousar é desmerecer a altura da
felicidade, é apequenar a felicidade.
Amor é fundura. Não há maior desatino do que nadar no raso.
Como descobrir o tamanho de um sentimento sem testar os seus
limites? É como morar em uma casa e conhecê-la pela metade, é como manter
vários quartos fechados ao longo do corredor e não ter nem a curiosidade de
povoar inteiramente o desejo.
A loucura no amor é que garantirá a serenidade na velhice, a
tranquilidade na velhice, a certeza de que não restou covardia para se
lamentar, a confiança de que não houve nada a ser feito e de que as palavras
não se distanciaram dos gestos.
Cansa prever sempre o que vai acontecer e ainda acertar,
distanciado do nervosismo da surpresa e do arrebatamento da aposta. A profecia
confirma a previsibilidade das nossas ações.
Só a loucura por amor traz a paz da consciência. É quando não
nos arrependemos daquilo que não realizamos, quando a culpa não supera a
memória.
Tentou-se o que podia, ofereceu-se o que se tinha em nome de
uma verdade. Não se foi mesquinho com a própria biografia. A realidade não
ficou reduzida à preguiça das mentiras.
É triste nascer gritando para depois se contentar com o
silêncio.