"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 19 de setembro de 2021

envelhecer pode ser fantástico

 


61 anos e acho que o que melhor aprendi, foi desaprender.

Desaprendi o tempo.

Sim, existem anos que a gente nem sente, dias que duram eternidades, centésimos de segundo que significam uma vida inteira. Tudo é movediço. Não existem verdades absolutas, pessoas absolutas ou tempo absoluto.

Viver é desafiar esse relógio inventado para encurtar a duração das coisas.

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E, afinal, envelhecer não é ruim.

Envelhecer é sentir uma calma delicada e inexplicável mesmo quando sabemos estar dentro de um furacão, é sentir-se equilibrado mesmo diante da vertigem do querer, é sentir-se seguro mesmo tendo quilinhos a mais ou centímetros a menos. Envelhecer é desejar abastecer a alma, mais do que o cérebro. É rir de si mesmo, afetuosamente. É plantio e colheita, feitura e degustação, é entender que oportunidades não devem ser perdidas, nem experiências, nem afetos. Tudo deve ser sorvido.

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Envelhecer é perceber que todas as vezes que chamarmos sinceramente pelo amor, ele vem. Envelhecer é aprender que muitas coisas nessa vida já vêm prontas e lindas, e que não é preciso enfeitá-las. Algumas pessoas são um bom exemplo disso. Envelhecer é descobrir que nossa casa de verdade, é dentro da gente. E de alguns abraços. É saber pedir perdão. E perdoar. É saber recomeçar, uma, duas, três vezes.

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Sempre achei que envelhecer podia ser fantástico, e assim tem sido, mais uma bênção para agradecer.

E o Universo, disponível e generoso como é, nos surpreende estendendo a infância e seu frescor até encontrar quem a deseje. E faz isso dia após dia, ignorando completamente o tempo e a lógica. Agarra quem quer.

Então envelhecer, de certa forma, é isso: entender que o tempo não existe.

Fiz 61 anos. E juro, me sinto menina, menina...

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Solange Maia