Vasculhando nas memórias
algum assunto, encontrei a carta que eu rabisquei na capa de um livro: “pra
você”, era o destinatário. Não sei por que não mandei, talvez não quisesse
passar a limpo o passado. Em letras garrafais eu te dizia: “acertei o caminho
não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso”. E
achei curioso eu usar essa metáfora sem nem ao certo saber o que queria te
dizer com isto.
E depois de repousadas
aquelas palavras eu percebi quanta coisa eu escrevi pra você querendo dizer pra
mim mesma.
Porque eu jamais chegaria
aonde cheguei se só andasse em linha reta. Tive que voltar atrás, andar em
círculos, perder dias, perder o rumo, perder a paciência e me exaurir em
tentativas aparentemente inúteis pra encontrar um quase endereço, uma provável
ponte: a entrada do encontro.
Você tão ocupado com seus
mapas, tão equipado com sua bússola, demorou tanto, fez sinais de fumaça e não
veio. Você simplesmente não veio. Mas me ensinou a intuir caminhos certos, a
confiar nos passos, a desconfiar dos atalhos. Porque eu estava do outro lado e
só. Sem amparo. Mas caminhava. E você estava absolutamente equipado com seu
peso. E impedido de andar por seus medos.