Queria viver no mundo do
Instagram. Lá tudo é tão belo, tão ameno, tão bom. As pessoas estão sempre
sorrindo, no Instagram, e as mulheres usam pouca roupa. Elas fazem ginástica.
Elas adoram mostrar suas barrigas pétreas. Elas comem vegetais.
No Instagram, as mulheres
acordam de bom humor. Elas pegam uma grande caneca de café ou chá ou algum
líquido mais saudável e vão para frente do computador. Ficam paradas, sorrindo.
De repente dizem:
- Bom diaaaaaa...E é um
bom-dia animado e feliz.
Nunca fui adiante desse
bom-dia, não sei o que elas fazem depois, mas o bom-dia me satisfaz.
Outra coisa legal sobre
as mulheres no Instagram: lá elas estalam os dedos, ou dão um pulinho, e mudam
de roupa instantaneamente. Você não precisa ficar dizendo:
- Vamos! Tá na hora!
Estamos atrasados!
No Instagram, a água do
mar é cristalina. Estava olhando para as águas do Japão, nas provas de surfe da
Olimpíada. São parecidas com as de Tramandaí: escuras, ameaçadoras, quase
barrentas. No Instagram, nunca é assim. Lá, o mar é uma piscina imensa e
amorosa.
Mas o melhor do Instagram
é que aquele é o lugar da concordância. As pessoas olham o lado bom da vida e
se elogiam. As pessoas dizem, umas para as outras: “Eu te amo”. Sério, elas
dizem isso. Uma moça publica uma foto dela própria e a amiga comenta: “Deusa!
Eu te amo!” Nos dias dos pais ou das mães, os filhos postam fotos com os
respectivos e se declaram: “Te amo, pai”. “Te amo, mãe”.
É muito amor. Quando eu
era guri, a gente não dizia tanto eu te amo, a não ser que tivéssemos sérias
intenções românticas. Ocorre-me agora que eu nunca disse “eu te amo” para a
minha mãe. Bom, nem precisa.
Fora do Instagram, o
planeta é inóspito. Outro dia, caiu-me nas mãos um antigo texto meu. Não sou de
me reler, mas, neste dia, o fiz. Reli meu próprio texto. E, olha, até gostei.
Achei bem-escrito, se você quer saber. Ali estavam encadeadas opiniões fortes,
algumas que poderiam ser consideradas polêmicas. Isso me surpreendeu. Porque
hoje não teria paciência de defender aquelas opiniões. Não porque eram aquelas
especificamente. Concordei com tudo o que escrevi (em geral, concordo comigo).
O fato é que defender certas opiniões tornou-se cansativo. As pessoas ficam
dizendo “tu é isso”, “tu é aquilo”, e você tem de dar explicação. É aborrecido.
Foi então que entendi
que, na época em que escrevi aquele texto, eu vivia no mundo do Twitter, um
lugar cheio de pessoas espertas e sarcásticas, pessoas superiores moral e
intelectualmente. No Twitter, todos lutam por suas opiniões e para desmoralizar
os inimigos. É um terreno conflagrado, sombrio e perigoso, frequentado por um
punhado de Bolsonaros e o Jean Wyllys e a Gleisi e outros tipos esquisitos. É
melhor não ir lá.
Como aguentava visitar o
Twitter, no tempo em que escrevi aquele texto? Isso não sei. Sei que, agora,
meu objetivo é levar uma vida de Instagram. Em breve você me verá com a minha
caneca de café, sorrindo molemente para a câmera e saudando, animado:
- Bom diaaaaaaaa!