— Não sou supersticioso — dizia, mas nas
sextas-feiras 13 fazia o seguinte: não saía de casa, entende?
— Vamos que me acontece alguma coisa. Aí eu
fico supersticioso.
Para proteger seu racionalismo, não se
expunha. Não saía de casa. Não saía nem da cama.
— Telefona para o trabalho. Diz que eu estou
gripado.
A mãe ia telefonar.
— E mãe...
— O quê?
— Me traz o café na cama?
A mãe trazia.
Ontem ele pediu para a mãe telefonar. Em vez
de gripe, para não desconfiarem, mandou dizer que tinha torcido o pé. No
escritório as pessoas comentaram:
— Já notaram? Toda sexta-feira 13 acontece
alguma coisa com ele.
— Que azar!
Tomou café, almoçou e jantou na cama. Só
levantou duas ou três vezes para ir ao banheiro, com muito cuidado. Dormiu um
pouco. Leu um pouco, nada muito arriscado. Só quando o velho relógio da sala, o
que imitava o Big Ben, tocou meia-noite, ele se levantou, escovou os dentes,
tomou banho e se arrumou para sair.
— Onde é que tu vai? — Perguntou a mãe.
— Pra vida, coroa, pra vida.
Encontrou com a turma no bar. Durante a
conversa, um dos amigos comentou:
— Ganhamos uma hora de existência.
E o outro comentou:
— Ganhamos, não. Recuperamos.
Ele não entendia nada.
— Como? O quê? Que história é essa?
— Acabou o horário de verão. Todos os relógios
atrasaram uma hora.
— Quer dizer que ainda é sexta-feira 13?
Um amigo olhou o relógio.
— Por mais ... vinte e dois minutos.
Ele saiu correndo do bar. Precisava voltar
para casa. Precisava voltar para a ...
Desapareceu num bueiro.