"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

um sonho morreu

 


É hábito elaborar uma lista do que ainda falta fazer na vida. Uma das pendências do meu inventário particular era assistir ao show do Roupa Nova. Meus amigos já conheciam essa lacuna e roteirizavam coincidências. Jamais tive a sorte de estar na minha cidade quando a banda oferecia o seu espetáculo. Amarguei dezenas de desencontros absurdamente pontuais.


E não sou daqueles que gosta de Roupa Nova com vergonha, avisando que é brega, desculpa de quem não se assume.


Eu gosto com convicção, de quem cresceu com as suas interpretações traduzindo os nossos altos e baixos sentimentais.


Show de Roupa Nova é algo único. É possível vislumbrar o arrebatamento e a maratona de adrenalina pelos DVDs.


Pois imagina um show em que você sabe de cor todas as letras. É como pontuar ao máximo num karaokê às cegas. É como juntar trilhas de trinta novelas num único palco (comoDona”, de Roque Santeiro, e Coração Pirata”, de Rainha da Sucata). É como virar a noite com cinquenta e dois singles.


Quem como Roupa Nova teve 52 sucessos? Não há formação com tamanha longevidade de êxitos: 20 milhões de cópias vendidas e 37 discos lançados.


Arrisco dizer que os meus pais, eu e os meus filhos, três gerações de uma família, são capazes de entoar sem erroTodo azul do mar”, “Linda demais”, “Volta pra mim”, “A Força do Amor”, “Frisson”, “A Viagem”, “Whisky a Go-Go”, “Sapato Velho”, “Seguindo no Trem Azul”, “Um Sonho A Dois”, “Natal Todo Dia”, “Começo, meio e fim”, “Amar é...”, “Os corações não são iguais”, “Chuva de prataeLinda”.


Parece que você já recebe esses hits pelo cordão umbilical. Só pode. Nascemos sabendo, nascemos cantando. É uma playlist que vem na gestação.


O que não esperava é que o vocalista Paulinho fosse morrer aos 68 anos, vítima da COVID-19.


Depois de quarenta anos, a banda nunca mais será a mesma. Um dos cavaleiros da alegria já não está entre nós, o puxador da trupe se calou, o grito de guerra do amor foi silenciado.


Não realizarei o sonho. Meu checklist ficará para sempre incompleto.


Paulo César dos Santos, vocalista do Roupa Nova,

seguiu no Trem Azul nesta segunda, 14