É hábito elaborar uma
lista do que ainda falta fazer na vida. Uma das pendências do meu inventário
particular era assistir ao show do Roupa Nova. Meus amigos já conheciam essa
lacuna e roteirizavam coincidências. Jamais tive a sorte de estar na minha
cidade quando a banda oferecia o seu espetáculo. Amarguei dezenas de
desencontros absurdamente pontuais.
E não sou daqueles que
gosta de Roupa Nova com vergonha, avisando que é brega, desculpa de quem não
se assume.
Eu gosto com convicção,
de quem cresceu com as suas interpretações traduzindo os nossos altos e
baixos sentimentais.
Show de Roupa Nova é
algo único. É possível vislumbrar o arrebatamento e a maratona de adrenalina
pelos DVDs.
Pois imagina um show em
que você sabe de cor todas as letras. É como pontuar ao máximo num karaokê
às cegas. É como juntar trilhas de trinta novelas num único palco (como
“Dona”, de Roque Santeiro, e “Coração Pirata”, de Rainha da Sucata). É como
virar a noite com cinquenta e dois singles.
Quem como Roupa Nova teve
52 sucessos? Não há formação com tamanha longevidade de êxitos: 20
milhões de cópias vendidas e 37 discos lançados.
Arrisco dizer que os meus
pais, eu e os meus filhos, três gerações de uma família, são capazes de
entoar sem erro “Todo azul do mar”, “Linda demais”, “Volta pra mim”, “A Força
do Amor”, “Frisson”, “A Viagem”, “Whisky a Go-Go”, “Sapato Velho”, “Seguindo no
Trem Azul”, “Um Sonho A Dois”, “Natal Todo Dia”, “Começo, meio e fim”, “Amar
é...”, “Os corações não são iguais”, “Chuva de prata” e “Linda”.
Parece que você já
recebe esses hits pelo cordão umbilical. Só pode. Nascemos sabendo, nascemos
cantando. É uma playlist que vem na gestação.
O que não esperava é
que o vocalista Paulinho fosse morrer aos 68 anos, vítima da COVID-19.
Depois de quarenta anos,
a banda nunca mais será a mesma. Um dos cavaleiros da alegria já não está
entre nós, o puxador da trupe se calou, o grito de guerra do amor foi
silenciado.
Não realizarei o sonho.
Meu checklist ficará para sempre incompleto.
Paulo César dos Santos, vocalista do Roupa Nova,
“seguiu no Trem Azul” nesta segunda, 14