Como é difícil para um homem virar um
pai. Ele faz filhos, mas como é difícil ser pai. Homem feito pra ser duro,
orgulhoso, violento, competitivo, egoísta. Como é difícil para um homem
transformar seu coração de pedra em manteiga. É preciso um milagre químico ou
intervenção cirúrgica. Ouvir mais e falar menos. Aceitar o imprevisto, o
incontrolável. Não ligar para os outros. Tirar suas máscaras, reconhecer o
choro. Recolher a âncora, aceitar a onda. Tirar a armadura, pra construir um
castelo.
Pai não tem útero mas tem colo. Não
tem peito, mas tem mamadeira. Não carrega na barriga, mas no abraço. Carrega no
ombro, nas costas, na cabeça. Pai engravida no frio da barriga. Gesta no
coração. Pare no choro. Nutre no beijo. Alimenta no carinho. Protege na
atenção. Pai não nasce pronto. Se quebra na parto, se reconstrói no caminho.
Nasce menino, cresce homem, morre pai.
Pai não tem cordão umbilical, mas tem
mãos e braços e pernas pra fazer chegar o necessário. Pai não faz leite, mas
faz comida. Não amamenta mas faz a papinha, dá a papinha, suja a roupa inteira
de papinha, limpa a papinha que caiu no chão. Pai não tem nove meses de
gestação, mas tem anos e anos de formação. Gesta fora, tentando acertar. Ser
bom pai, bom filho, bom marido, bom homem.
Pai é rei, princesa, professor,
Messi, Eistein, Steve Jobs. Gigante, minúsculo, imbatível, chorão. Auréolas
invisíveis, asas escondidas embaixo das nossas camisas. Que sejamos os
super-heróis que nossos filhos sabem que podemos ser. Heróis comuns, empurrando
carrinhos. Agradecidos por um dia termos virado o que nunca imaginamos. Como é
bom para um homem virar um pai.