"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

sem anestesia



O problema não é a dor.
O que machuca é não achar sentido para tanta coisa.
É que algumas memórias nos atiram mesmo pra fora da estrada. Muita vida passou, e de vez em quando o ar ainda parece inconstante e rarefeito.
Seria ingenuidade acreditar que permaneceríamos impunes.
A gente vai crescendo e percebe quanta tolice havia em nossos desejos de querer construir mundos que durassem para sempre. Não duram. Os mundos não.
A gente dura.
Porque a despeito de tudo a vida nos invade com toda sua intensidade, por mais que tentemos nos esconder sob as cobertas, às vezes. E graças a Deus. Porque só assim temos certeza que lá dentro, em algum canto, a gente ainda preserva aquela menina que comia no prato colorido da casa da Avó e que tinha tantas certezas e tantos sentimentos.
Os sabores são outros, eu sei. As sensações também.
Mas a menina que mora em mim, ainda é a mesma.
Eu sei que é.
Algumas coisas não serão nunca, nunca compreendidas.
E talvez isso nem tenha mais importância.
Muita coisa ganhou novo significado.
Perdemos algumas certezas, ganhamos outras...
O tempo passou sim, sem anestesia.
Mas aprendi que alguns desencantos se curam mesmo só no abraço.
Vivo então, secretamente, de braços abertos para a vida...

Solange Maia