O problema não é a dor.
O que machuca é não achar
sentido para tanta coisa.
É que algumas memórias
nos atiram mesmo pra fora da estrada. Muita vida passou, e de vez em quando o
ar ainda parece inconstante e rarefeito.
Seria ingenuidade
acreditar que permaneceríamos impunes.
A gente vai crescendo e percebe
quanta tolice havia em nossos desejos de querer construir mundos que durassem
para sempre. Não duram. Os mundos não.
A gente dura.
Porque a despeito de tudo
a vida nos invade com toda sua intensidade, por mais que tentemos nos esconder
sob as cobertas, às vezes. E graças a Deus. Porque só assim temos certeza que
lá dentro, em algum canto, a gente ainda preserva aquela menina que comia no
prato colorido da casa da Avó e que tinha tantas certezas e tantos sentimentos.
Os sabores são outros, eu
sei. As sensações também.
Mas a menina que mora em
mim, ainda é a mesma.
Eu sei que é.
Algumas coisas não serão
nunca, nunca compreendidas.
E talvez isso nem tenha
mais importância.
Muita coisa ganhou novo
significado.
Perdemos algumas
certezas, ganhamos outras...
O tempo passou sim, sem
anestesia.
Mas aprendi que alguns
desencantos se curam mesmo só no abraço.
Vivo então, secretamente,
de braços abertos para a vida...
Solange Maia