Nunca acertava o momento
de largar o apontador. Apontava duas voltas e parava, via que a ponta do lápis
estava boa, mas ainda não era ideal e continuava. Mais duas voltas, as tiras da
madeira se amontoando na mesinha da classe, e pensava que poderia avançar mais
um pouquinho. No meio da última volta, quando suspirava de satisfação, o
grafite quebrava.
A obsessão pelo melhor
piorava a minha situação. Não desistia de arredondar a cabeça, afiar a pequena
lança de meus deveres escolares. Não encontrava a hora de cessar, confiava que
acertaria na próxima tentativa e fracassava. A ponta perfeita terminava presa
no apontador de metal. O lápis ia diminuindo. Desaparecendo. E recomeçava pelo
ideal de uma letra fina no caderno.
O perfeccionismo é
inimigo da perfeição. Levamos o mesmo preciosismo ao casamento. Não definimos o
instante de interromper as críticas, a caça pela ponta perfeita. Abusamos das
reclamações e nos irritamos por defeitos do outro que não são tão graves assim.
Exigimos muito de quem
amamos. Vejo sinceramente que exigimos aquilo que não exigimos nem da gente.
Juramos que a pessoa pode dar mais do que vem oferecendo e cobramos aquilo que
não existe.
No casamento, demora-se a
aceitar que a harmonia decorre do meio-termo, que a ponta é para escrever, não
para ferir ou furar o papel.