"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



domingo, 5 de setembro de 2021

o tempo das coisas

 


Viver é a arte de envelhecer. Todos os dias envelhecemos. E enquanto envelhecemos, o mundo envelhece ao nosso redor.

Enquanto envelhecemos, envelhecem os móveis, parados no mesmo lugar de sempre. Envelhecem as árvores, os bichos e até as estrelas.


Enquanto envelhecemos, envelhecem conosco as palavras, a música, nossos ídolos e tudo que fez parte da nossa trajetória.


Se antes alguma coisa era cafona, barango ou démodé, agora é cringe.


Se antes ficávamos numa boa, hoje eles ficamde boa”. O que eranota 10, passou para 10 e agora é TOP.


Lembra dospretendentesdo passado? Agora se chamamcontatinhos. E ninguém paquera mais, essa palavra tá morta, hoje a moçada temcrush”.


Até nossas roupas envelheceram! Ninguém veste mais japona, nem calça o keds. Tá tudo guardado junto com o toca fitas dentro do guarda roupa de sucupira no quarto das memórias.


Lá, onde moram os LPs, os aparelhos 3 em 1, o jogo de ludo, o biloquê, a caixa de papel de carta. Cartas? Elas também estão amarradas naquela fita que fechava a caixa de bombons que você ganhou no aniversário e ficou feliz! Lá estão elas, as cartas! Amareladas! Elas que foram substituídas pelo e-mail, pelo áudio, pelo vídeo, por qualquer coisa tecnológica que transporte nossas intenções. Elas que uniam os amantes, guardavam segredos, traziam esperança e levavam expectativas. Até elas, as cartas, que eram aguardadas com frio no estômago, perderam o glamour para a notícia que chega em tempo real.


É! O tempo passa para mim, para você, para as nossas palavras e para as coisas…


E gente lutando veementemente para não envelhecer!