Faz
16 anos hoje daquele domingo que a gente acordou cedo pra conhecer você. Dizem
que é o dia mais lindo da vida, foi também o dia mais nervoso, filmei a coisa
toda, a fita tá em algum lugar. Você segurou no meu dedo minguinho e me senti
um gigante protetor. “Pro resto da vida vou cuidar de você, filha”, pensei.
De
repente, dezesseis.
Minha
única regra pra ser pai de adolescente é tentar não ser contra os Beatles.
Quero dizer, veja aqueles vídeos antigos dos Beatles correndo nas ruas da
cidade e um monte de adolescentes correndo atrás deles. Os pais daquelas
garotas horrorizados: “Isso não é música! Vocês precisam ouvir Debussy!”. Não
quero ser esse pai. Eu tive meu tempo, você tem o seu.
Portanto,
se mangá e Naruto fazem a sua cabeça, se você gosta de tirar onda com Tierry e
os irmãos Berti, se filme clássico pra você é Operação Cupido, se seu quarto é
uma bagunça e hoje você não quer caminhar comigo, ok, você tem o seu tempo.
Nós
pais erramos por querer moldar nossos filhos. Mas filhos não são vasos, são
plantas. Eles crescem de maneiras surpreendentes, esticam suas raízes por
caminhos que a gente não vê, se tornam maiores e mais bonitos do que a gente
jamais imaginou.
Quando
a gente é adolescente, se enxerga frágil e esquisito. Depois descobre que todo
mundo se sente frágil e esquisito pela vida toda, então entende que pertence a
esse grupo atrapalhado, que se chama “seres humanos”.
Nas
suas horas de escuridão, estarei bem aqui na sua frente. Sussurrando palavras
de sabedoria. Let it be.