Estamos no mês da Mulher
e eu, que em outros tempos já demonizei a data, hoje reconheço que é mais uma
oportunidade para reafirmar nossos valores, denunciar abusos e homenagear as
mulheres que abriram caminhos para nós. Mães, avós e professoras iniciaram
nossa formatação, mas não foram as únicas. Você teve suas desbravadoras, eu
tive as minhas.
Não seria quem sou se
Rita Lee não tivesse me dado colo nas vezes em que me considerei a ovelha negra
da família (quem nunca?). Se Marília Gabriela não transformasse suas
entrevistas em sessões de psicanálise, sempre mantendo a classe e a firmeza
diante de qualquer entrevistado. Se não contássemos com o gigantismo sereno de
Fernanda Montenegro, nosso farol. Se Marina Colasanti não tivesse escrito A
Nova Mulher e Mulher Daqui Pra Frente, dois livros que foram a minha bíblia: me
abriram os olhos sobre a importância da independência feminina e revelaram a
aventura que estaria ao meu alcance, se eu ousasse sair da bolha.
Não seria quem sou se não
tivesse recebido o apoio, no início da minha carreira literária, em Porto
Alegre, de Tania Carvalho, Lya Luft e Irene Brietzke. Se não tivesse conhecido
a obra de Maria Adelaide Amaral, se Elisa Lucinda não tivesse me envolvido com
a intensidade de sua poesia, se Leila Ferreira não tivesse me ajudado a dar um
cavalo de pau numa dor de estimação, se Isa Pessoa não tivesse editado o Divã e
se grandes atrizes como Lilia Cabral, Cissa Guimarães, Ana Beatriz Nogueira,
Cristiana Oliveira e Julia Lemmertz não tivessem dado voz e graça às minhas
palavras no palco - há outras, são muitas, um grande elenco.
De repente, a pandemia. O
estupor. Mas o mundo não parou. Hoje, mantenho a busca por mais consciência e
representatividade através do trabalho de Eliane Brum, Djamila Ribeiro, Teresa
Cristina, Zélia Duncan, Luiza Trajano e outras grandes artistas, filósofas,
jornalistas, empreendedoras. Não faltam mulheres atentas ao momento presente e
que estão sempre nos incentivando a ser mais atuantes. Nada contra seguir
perfis de influenciadoras de moda, maquiagem, musas fitness - ser vaidosa é
saudável, mas a cabeça continua sendo nossa bússola e força: sem lucidez, pouco
adianta o cabelo, o botox, a magreza.
Amo os homens da minha
vida e devo muito a eles também, mas é uma mulher que inspira outra mulher a
crescer, a evoluir e a realizar seus desejos. Nesse time, incluo minhas duas
filhas, que antes dos 30 já me ofertam o seu melhor, um olhar aberto e renovado,
estimulando que eu enxergue esse planeta com amplitude, e não com visibilidade
restringida. Que todas as mulheres encontrem o seu lugar, apoiando-se em
exemplos notáveis - e de mãos dadas com a coragem, nossa melhor amiga.