Por favor, não me matem.
Mas acho uma babaquice essa coisa de dia da mulher. Tem dia dos pais, das mães,
da criança, do amigo, da avó. Tá bom. Só que fica uma coisa meio comercial,
você se sente naquela obrigação de dar presente no dia dos pais. Eu trato meu
pai bem todos os dias, beijo, abraço, brigo, converso, de vez em quando faço
café da manhã pra ele, nós corremos juntos aos domingos, tomamos uma cervejinha
quando está muito quente, ele faz churrasco pra mim, sabe que adoro queijo e
traz sempre o meu preferido. Meu pai é meu pai todos os dias, um grande pai,
amigo, companheiro, duro, exigente, crítico. Amo ele. E amo ele 365 dias por
ano. Eu trato minha mãe bem todos os dias, beijo, abraço, deito a cabeça no
colo, choro, peço conselhos, brigo, xingo, digo pra ela não se meter na minha
vida, vamos ao cinema, saímos pra caminhar, ela me faz chá quando estou
gripada, me leva bolsa de água quente e Ponstan quando tô com cólica, diz que
faço tudo errado, diz que faço tudo certo, acha tudo o que eu escrevo lindo,
tudo o que eu pinto lindo e me acha a mulher mais linda e a criança mais
perfeita do mundo. Amo ela. Todos os dias do ano, mesmo os dias em que ela está
chata, enjoada e briguenta. Não sou mais criança, se bem que adoro andar de
balanço, comer besteira, ver desenho, gosto de coisas rosas, brilhosas,
cheirosas. Tenho alguns comportamentos infantis. E faço manhã, que nem bebê. E
gosto de colo, mas ta, não sou criança. E não ganho presente no dia da criança
(acho, inclusive, já que fazem dia pra tudo: deveriam inventar o dia do filho,
da filha). Meus amigos são meus amigos. Eles sabem o quanto são importantes na
minha vida, o quanto os amo, mesmo que eu não saiba me expressar da forma mais
correta possível. Eu demonstro. Minha avó é tudo pra mim, me defende até
debaixo da água, é doce, meiga, engraçada, inteligente e linda. E eu amo ela
sempre. Dou presente para as pessoas que eu gosto quando eu quero. Num domingo,
numa terça, numa sexta. Num dia qualquer. Saio na rua, vejo algo e penso “fulano
vai gostar”, compro no ato. Odeio dar vale cd, acho impessoal, frio. Presente
tem que ter a cara do outro. Ou tem que ser o que o outro ta precisando. Não
tem dinheiro? Um cartão bonito e uma flor do jardim do vizinho estão valendo.
Um bombom ta valendo. Não importa o preço, o valor, mas o significado. E o
significado...significa muito!
O que eu quis dizer com
isso? Eu faço os dias. Não sou feminista. Não queimei sutiãs. Jamais queimaria
minhas lingeries. Adoro scarpin bonito, mas ando de havainas também. Adoro pé
no chão, mas uso bota até o joelho. Adoro calcinha de algodão, mas também uso
de renda. Acho lindo essa coisa dos “direitos iguais”, mas o mundo ainda é
machista. É cultural. Quer saber? Eu acho que existem profissões que são
exclusivamente masculinas. Mas acho que homem tem que lavar a louça quando nós
cozinhamos. Acho que homem tem que ser gentil sem ser afetado. Tem que ser
cavalheiro sem ser meloso demais. Odeio matar barata, mas se tiver que matar eu
mato. Sei abrir potes de pepino. Sei trocar a lâmpada. Sei abrir garrafa de
champagne e de vinho. Mas tenho medo do escuro e gosto de proteção. Sei dar
abrigo, colo, conforto, mas também quero aquele peito pra deitar a cabeça.
Também quero aqueles braços fortes me dando segurança. Aquela voz grossa que te
diz “tô aqui, tô contigo”.
Acredito que não existe
essa de que um é melhor que o outro. Mais forte. Mais isso e aquilo. Pessoas
são pessoas. E pessoas têm limitações, sejam elas homens ou mulheres. Existe
dia do homem? Não? Por quê? Não querem direitos iguais? Pois vamos pensar num
dia pra eles.
Assim como todos os
outros, o dia da mulher é todo o santo dia. Nós somos complicadas, confusas,
emotivas, temos tpm, temos que fazer as unhas dos pés e das mãos, depilação,
hidratação no cabelo, hidratação facial, corporal, esfoliação, botox. Temos que
usar creme nos pés, no corpo, pra celulite, pra gordura localizada, pra
futura-celulite, pra futura-gordura-localizada. Temos que fazer escova,
chapinha, reiki, ioga, pilates, body pump, bicicleta e o que mais inventarem
nesse mundo que traga a promessa de que ficaremos bonitas, com tudo em cima.
Tudo isso e ainda andar no salto. Tudo isso e ainda ser amiga, mãe, filha,
vizinha, prima. Tudo isso e ser mulher, cúmplice, namorada, amante. Só nesse
ponto acho que pra eles é mais fácil: eles só cortam o cabelo, alguns fazem as
unhas, aparam uns pêlos, fazem a barba. O que mais? Cosméticos: shampoo,
pós-barba, condicionador, perfume, desodorante. Alguns usam protetor solar e
cremes no rosto. Outros acham meio gay.
Concluindo: não preciso
de dia pra me sentir valorizada. Não preciso de dia pra ganhar rosa e presente
e um parabéns acompanhado de um sorriso só pra constar. Preciso de noites.
Preciso de orquídeas. Música. Letra. Palavra. Beijo. Abraço. E a sua coragem de
mãos dadas com o seu amor.
PS. mulheres: parabéns!
homens: obrigada por vocês nos amarem do nosso jeito, sabemos que é difícil.
mas saibam: também é difícil entendê-los!