Hoje, às 19h30min,
aplauda da sua janela os profissionais da saúde de todo o Estado.
A ideia, no fim da tarde
de hoje, é que prestemos uma homenagem aos profissionais de saúde que estão
atuando há um ano no combate à covid-19. Gosto disso. Devo muito do meu
bem-estar e da minha própria vida aos profissionais de saúde. E, para tornar
esse ato mais pessoal, vou destacar três deles. São três oncologistas gaúchos
que servem de referência profissional a todo o Brasil. Estão, portanto, atuando
indiretamente na crise da covid, mas diretamente na crise sanitária. São os
médicos André Fay, Fabio Franke e Carlos Barrios. No meu livro Hoje Eu Venci o
Câncer eu os comparo a Pelé, Rivellino e Garrincha. Só não digo quem é quem.
O que dizer a Lula e
Bolsonaro
O discurso que Lula fez
na quarta-feira, em São Paulo, excitou a intelectualidade brasileira. “Oh, como
ele fala bem!”, maravilharam-se uns quantos, redes sociais afora.
Lula fala bem, de fato.
Tem treino de mais de 40 anos, desde que comandava as greves dos metalúrgicos
do ABC paulista. Mas fala o óbvio. Se você transcrever o que Lula diz em seus
discursos, só restará o lugar-comum, as imagens corroídas pelo uso popular, a
repetição de ideias previamente encaixotadas por outros que pensaram antes
dele.
Os predicados de Lula que
fazem a intelectualidade cair de quatro são outros, além do sentido das
palavras. Em primeiro lugar, são suas origens. Ter origem pobre é grande trunfo
no Brasil. O brasileiro adora uma história de superação. E o intelectual,
especialmente, é fascinado pela figura do operário que se transformou em líder.
Este, para o intelectual, é alguém iluminado, dotado de uma sabedoria
exclusiva, a sabedoria “do povo”.
A segunda e a terceira
qualidades de Lula se aliam poderosamente na tarefa de comover quem o escuta.
São a eloquência e o carisma. Já vi oradores levarem as massas ao êxtase
valendo-se apenas de gestos e tom de voz, imagem e som, pouco importando o
conteúdo do que diziam.
Tecendo uma comparação
clássica: Hitler e Churchill.
Hitler era o histrião, o
ator, o homem que falava com os punhos cerrados e a boca espumando. Churchill
era o cerebral, consumia horas escrevendo e reescrevendo os seus discursos,
cuidava de cada verbo como se fosse um filho, mas sua oratória acabava sendo
monótona, quase sonolenta. Já o texto saía impecável e mais comovia quanto mais
fosse lido e relido. Os discursos de Churchill entraram para a História,
ficaram para o futuro. Hitler empolgou só quem o ouvia no presente.
Mas empolgou, isso que
importa. Porque a forma também é importante, e Lula sabe mesmerizar a plateia
pela forma. O que se estende, inclusive, à sua aparência física. Lula ficou
mais bonito depois de velho. Tornou-se um senhor respeitável e simpático,
aquilo que antigamente se chamaria de “bem-apessoado”. Em seu discurso desta
semana, ele caprichou: surgiu com um terno bem cortado, a barba branca aparada
com esmero, o cabelo já ralo, mas domesticado.
Não se iluda, porém: sua
grande vantagem, hoje, é factual. É a comparação com Bolsonaro. Li e ouvi
dezenas de pessoas fazendo a seguinte ponderação: “Você pode não gostar de
Lula, mas...”. E aí vinha a referência a Bolsonaro, que, por ter dificuldades
na forma E no conteúdo, consagra qualquer adversário.
Lula, em seu discurso, pronunciou trivialidades de estudante de Ensino Médio. Tipo: “Tome vacina, use máscara, minha solidariedade aos mortos de covid”. E as pessoas: “Oooh, que estadista!”. Porque o seu rival, Bolsonaro, faz exatamente o contrário: desdenhou da vacina, desprezou a máscara, desrespeitou os mortos. Ficou fácil ser inteligente, perto dele.
Já eu não caio nessa. Não vou entrar nesse maniqueísmo. O duelo Lula versus Bolsonaro não foi travado em segundo turno algum e talvez nunca venha a acontecer. Faltam quase dois anos para a eleição, tudo pode mudar. Essa conversa serve para eles. Os bolsonaristas querem Lula como rival, assim como os petistas querem Bolsonaro. Eu, não. Não tenho de querer um dos dois, não sou obrigado a escolher entre os dois. Posso olhar para um e outro e proclamar solenemente o que desejo dizer a eles. Que é uma palavra só. Curta, seca e dura: “Não!”.