Um dia ouvi que eu era a pessoa mais importante para alguém.
Na época, aquilo era essencial para mim: ser promovida pela reciprocidade.
E o tempo, imperador dos destinos todos, desgastou os mármores, mas manteve intacto aquele amor: ele sobreviveu à relação finda. E eu perdi o meu alto cargo de importância para aquele alguém.
Convalescente, mas em recuperação da suposta infelicidade de um ego magoado, tive que descobrir outra forma de amor: uma espécie rara que dá perenidade ao bem-estar e põe o ego em seu lugar.
Eu me tornei a pessoa mais importante para mim. Quem poderia me tomar isto? O tempo?
Hoje, as pessoas vão e vêm. Recebo-as, rejeito-as, tolero ou amo.
A poesia não me tira os sentimentos vis, nem as doçuras de um ser humano.
Um dia me chamaram de radical.
Aceitei: só eu sei a importância que as coisas têm para mim e o propósito de mantê-las ou não na minha vida.
Em outra ocasião, me chamaram de amorosa.
Compreendi: pessoas amoráveis extraem o que tenho de melhor.
Já me disseram que pareço um personagem.
Entendi: sendo povoada por tantas, quão imprevisível posso ser na liberdade que me permito ter.
Não me importo com o que julgam, sempre serei espelho e sempre terei o Outro como meu espelho. Somos extensão. Estejamos ou não em harmonia ou comunhão, dedico carinhosamente o meu tempo compartilhando minha nudez.
Aos que veem máscaras e vestes, sou impotente a estas leituras.
Aos que veem generosidade e amparo, sou impotente à beleza que me dão. Sou impotente ao olhar alheio.
Não tenho o controle de absolutamente nada, mas o meu
trabalho consiste em eu não me rejeitar.
Diariamente eu fortaleço
minha autoestima assim:
Hoje, nem que seja apenas
hoje, eu sou a pessoa mais importante para mim.
Que assim eu esteja.
Que seja assim.