"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 16 de janeiro de 2021

 


Um dia ouvi que eu era a pessoa mais importante para alguém. 

Na época, aquilo era essencial para mim: ser promovida pela reciprocidade. 


E o tempo, imperador dos destinos todos, desgastou os mármores, mas manteve intacto aquele amor: ele sobreviveu à relação finda. E eu perdi o meu alto cargo de importância para aquele alguém. 


Convalescente, mas em recuperação da suposta infelicidade de um ego magoado, tive que descobrir outra forma de amor: uma espécie rara que dá perenidade ao bem-estar e põe o ego em seu lugar. 


Eu me tornei a pessoa mais importante para mim. Quem poderia me tomar isto? O tempo? 


Hoje, as pessoas vão e vêm. Recebo-as, rejeito-as, tolero ou amo. 

A poesia não me tira os sentimentos vis, nem as doçuras de um ser humano. 


Um dia me chamaram de radical. 

Aceitei: só eu sei a importância que as coisas têm para mim e o propósito de mantê-las ou não na minha vida. 


Em outra ocasião, me chamaram de amorosa. 

Compreendi: pessoas amoráveis extraem o que tenho de melhor. 


Já me disseram que pareço um personagem. 

Entendi: sendo povoada por tantas, quão imprevisível posso ser na liberdade que me permito ter. 


Não me importo com o que julgam, sempre serei espelho e sempre terei o Outro como meu espelho. Somos extensão. Estejamos ou não em harmonia ou comunhão, dedico carinhosamente o meu tempo compartilhando minha nudez. 


Aos que veem máscaras e vestes, sou impotente a estas leituras. 

Aos que veem generosidade e amparo, sou impotente à beleza que me dão. Sou impotente ao olhar alheio. 


Não tenho o controle de absolutamente nada, mas o meu trabalho consiste em eu não me rejeitar.


Diariamente eu fortaleço minha autoestima assim:

Hoje, nem que seja apenas hoje, eu sou a pessoa mais importante para mim.


Que assim eu esteja.

Que seja assim.