Uma amiga nossa faleceu
essa semana depois de alguns anos lutando contra o câncer. O que vamos nos
lembrar da Pri é como ela estava sempre sorrindo. Ela tinha um daqueles
sorrisos abertos. A gente via todos os dentes, a gente via os olhos sorrindo
junto. A gente sentia o sorriso da Pri quando ela nos olhava e sentia uma
vontade incontrolável de sorrir junto. A Pri era uma dessas pessoas que deixava
o mundo mais feliz. Quando a conheci, já lutava contra um câncer agressivo,
alternava dias muito ruins com dias um pouco melhores. Mas sorria o tempo todo.
Um sorriso que iluminava o recinto. Nos disseram que ela sorriu até o fim.
“Amor fati”, como diziam
os filósofos. Amor ao que me acontece. Amor ao meu destino. Receber tudo o que
me acontece com amor. Não somente tolerar aquilo que me acontece. Não apenas
suportar aquilo que me acontece. Amar o que me acontece. Seja bom ou seja ruim.
Amar aquilo que me acontece. Um beijo. Um acidente. Um romance. Uma doença. Um
filho. Uma perda. “Eu amo isso”, eles diziam. “Eu amo o que me acontece”. “Isso
vai me deixar melhor”. “Eu amo tudo o que acontece comigo”. Na vida, não
controlo as coisas, mas controlo como respondo à elas. Posso responder com
raiva, ou com um sorriso. Um sorriso verdadeiro, que ilumina o recinto.
Por quanto tempo ainda
vou reclamar daquilo que não controlo? Da chuva, do trânsito, dos outros? Que
diferença faz? Não controlamos as coisas da vida, controlamos apenas como
respondemos quando as coisas acontecem. O que faremos quando algo bom
acontecer? O que faremos quando algo ruim ocorrer? Quando alguém faz algo que
não gostamos? Quando o imprevisível acontece? O que faremos quando descobrirmos
uma doença? Não controlamos o que nos acontece. Controlamos apenas a resposta
que damos para o que nos acontece.
Acho a morte um desaforo.
Um atrevimento. Dói quando alguém que faz bem ao mundo se vai. Gostaríamos que
não tivessem existido, portanto? Claro que não. Os bons, quando morrem, nos
lembram do que podemos ser. Se você ama alguém, um dia irá se despedir. Seria
melhor não amar, portanto? Claro que não. O amor é o sentido da vida. Cada
pessoa que amamos é um presente emprestado, mais cedo ou mais tarde se vai. Um
dia seremos nós. Que se lembrem de nós como lembramos da Pri. O mundo era um
lugar melhor com ela. Os que ficaram terão que ser um pouquinho melhores daqui
por diante.