Nossa sorte é que o amor não respeita distância e nem tempo.
Fosse diferente, a relação amorosa de Florentino Ariza e Fermina Daza não
iria se consumar mais de 50 anos depois de eles terem se conhecido, como conta
o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez no clássico “O Amor nos Tempos do
Cólera”.
Mais de cinco décadas sem contato físico, sem sequer tocar um ao outro,
sem abraços, carinhos e beijinhos, no máximo cartas perfumadas com pétalas de
flores prensadas entre as folhas enviadas por telégrafo.
O amor de Florentino e Fermina superou quilômetros de distância e o surto
de cólera que atormentou Cartagena de Las Índias no final do século 19.
Nesses tempos em que cinco minutos sem responder mensagem no WhatsApp
parece uma eternidade, um homem que espera 50 anos pela mulher amada, realmente
é obra de realismo fantástico!
O que são alguns dias de quarentena perto de mais de 50 anos?
Nos tempos do “Corona”, vivemos o afeto restrito e o afago proibido,
justo no momento que mais precisamos ser acolhidos, abraçados e que gostaríamos
de ficar atracados.
Quando você vê que até o que Deus uniu, o Corona já conseguiu separar (ao
menos fisicamente), bate um desânimo, mas aí recorremos novamente à Garcia
Márquez:
“O amor se torna maior e mais nobre na calamidade”.
De fato, os tempos de Corona nos dão a chance de entender que o amor vai
muito além do sexo. O amor é uma energia, um sentimento muito elevado e, o
próprio amor, ajuda a amenizar o sofrimento, a saudade e o afastamento.
É bom ter alguém para viver isso junto, ter alguém para conversar, é um
respiro. Esse afeto é que segura a onda. O amor em tempos difíceis serve para
isso. Dá uma sensação de conforto e de que isso vai passar.
As cartas perfumadas de Florentino, às vezes levavam dias para chegar às
mãos de Fermina. Nós ao menos temos a tecnologia a nosso favor: mensagens
instantâneas de aplicativos e redes sociais. Claro, nada substitui o toque, a
pele, mas vídeos e chamadas aproximam os amores sem o risco de transmissão.
“A memória do coração elimina as
más lembranças e enaltece as boas” e, graças a esse artifício, vamos conseguir
nos virar nesses “100 anos de solidão”.