Acho que já se chegou à
conclusão de que príncipe encantado não existe. Nem estamos mais numa monarquia
para acreditar no suserano do amor.
A verdade começa a
aparecer depois dos 30 anos, quando você cansa de testemunhar a mentira, a
deslealdade e a covardia em suas experiências. Ao encontrar alguém com química,
falta literatura. Ao encontrar alguém com literatura, falta química. Sempre
está faltando alguma coisa.
A ausência desse algo não
pode trazer desespero, mas vontade de aprendizado. Temos que ensinar o outro
como somos, como funcionamos, o que queremos.
Ficará junto quem tem
mais humildade para aprender, apesar das enormes diferenças de temperamento.
Aceitar e acolher a
imperfeição é a grande percepção para encontrar uma companhia fundamental. As
relações não vêm prontas, restando apenas o nosso esforço de encaixar. As peças
devem ser inventadas e manufaturadas na convivência. As pontas serão moldadas
pelo prazer de nos explicar e facilitar o acesso.
Na hora de expor os
defeitos, não se sentir cobrado, criticado e ameaçado, não gritar e muito menos
acusar para se igualar na fraqueza. A pressa elimina candidatos honestos e
sinceros. Só a paciência produz intimidade.
Ninguém tem a obrigação
de saber o que pensa, ninguém está dentro de sua cabeça para aceitar as suas
decisões - terá que rebobinar a história ao início para justificar as suas
escolhas.
O amor é um jogo infantil
feito para adultos. Ou seja, precisará conversar devagar, como se estivesse
expondo as regras de seu corpo e de sua mente para uma criança: isso pode
fazer, isso não pode fazer, ganha o meu coração quem avançar todas as casas sem
trapacear.
Qualquer um, por mais louco
que seja, possui regras. Estenderá o tabuleiro de sua personalidade e mostrará
o conteúdo das cartas, longe da tentação do blefe e da telepatia. Ganhará a
partida se o seu par ganhar. A vitória dele será a sua vitória: significa que
conseguiu a façanha de se traduzir.
Não há como ser amado
antes de ser compreendido. Príncipe encantado não existe, o que existe é a
perseverança da amizade. Quando unimos, na mesma pessoa, o melhor amigo e o
melhor amante.