Nunca as varandas e
sacadas foram tão frequentadas. O medo pode confundi-las com gaiolas, já a
esperança compreende que são aviários.
Com o resguardo diante da
pandemia, elas se tornaram uma espécie de calçada da família. As pessoas
viraram namoradeiras de pedra em seus corrimãos.
Você observa os edifícios
e sempre tem alguém de vigia no mirante particular. Mesmo as mais estreitas,
que não têm espaço nem para uma churrasqueira, vêm servindo para esticar as
cadeiras de praia e as pernas. Ter uma abertura ao ar livre, para tomar sol e
descascar tangerinas no inverno, para dar uma escapadinha e ver o movimento ou
o não movimento das ruas.
Alguns entoam músicas
para os vizinhos, outros tocam instrumentos como violão, violino e saxofone.
É uma porção de pássaros
nos fios dos parapeitos, cantando, decantando a solidão, controlando o mundo de
cima e se esforçando para exercer uma comunicação nova, à distância, pelos
sinais e vozes, para alcançar ao menos a solidariedade dos rostos
É a redescoberta das
serenatas, das conversas ao entardecer, de apanhar o pôr do sol ou a lua e
manchar as camisas com os reflexos da luz. Ainda há aqueles que se trancam ali
para fazer sua terapia por chamada de vídeo, isolados dos parentes, protegendo
a privacidade das confissões, como se estivessem em antigas cabines
telefônicas.
Há os que discutiram e,
depois dos gritos dentro de casa, esfriam a cabeça com as sobrancelhas
sofridas, pungentes, quase chorando de raiva. Há os fumantes, que tragam
espirais de fumaça com lentidão, imitando suspiros à beira do cânion do
Itaimbezinho.
Há os jogadores de
carteado, do buraco, que montam brincadeiras de cartas com os filhos enquanto
esperam o tempo passar. São os mais alegres, fingindo que atravessam um
veraneio chuvoso.
Há também os velhinhos
que jamais se aproximam do umbral, temerosos da altura, que mantém a sombra e a
pele unidas no mesmo passo.
A porta de correr das
varandas está mais usada do que a porta da frente. Não duvido que os anjos, os
Cristos e as tabuletas de bem-vindo mudem de lugar.