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Longe do estereótipo da
princesa, sou dessas mulheres que foram forjadas no fogo. Ariana de gestos
decididos, forte, corajosa. Desde muito cedo dei conta do recado. Mas alguma
acontece comigo no Natal. Viro menina.
Quero usar colares de
bolas coloridas, deixar as cortinas abertas até tarde porque sei que o trenó
pode deixar um rastro brilhante no céu a qualquer momento, fazer cupcakes de
cereja e castanhas e quero um presépio napolitano, renascentista, com tantos
personagens que tenha até galinha, cestas de pães, carpinteiro e pastores.
Encho a casa de luzinhas e as acendo todas as noites. Coloco músicas de Natal e
me comovo.
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Sei lá, nesta época do
ano a rotina não me basta. As fotografias não me satisfazem, os contos e os
filmes tampouco: preciso dos cheiros, das texturas, do fogão, do toque, dos
arredores e das pessoas. Mais do que a festa de cada Natal, preciso conhecer
suas histórias.
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O Natal também é belo por
sua incompletude, por seus vazios, pela necessidade repentina e urgente que
sentimos das nossas famílias, dos nossos vínculos, dos nossos afetos.
Mais do que os presentes,
gosto dos laços, dos cartões, dos olhares e da ternura.
São dias de celebração da
vida, é quando podemos esquecer nossas deserções e preencher nossos abandonos.
Talvez seja por isso que
essa data me faz querer ser parte de um conto de fadas.
Porque o Natal resgata em
mim a infância que vou perdendo durante o ano.
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Solange Maia