Todos são iguais perante
a lei da doença. Quem não pensava assim, descobrirá com a epidemia.
Coronavírus não escolhe
suas vítimas pela classe social, credo, ideologia. Não poupará famosos, não
dará chance aos poderosos e influentes, não cederá vantagens aos artistas e
formadores de opinião, não pegará leve com presidentes e ministros.
Não diminuirá o seu
impacto se você reza ou não, se é bondoso ou não. Não se compadecerá de seu pai
ou de sua mãe velhos, de seus bebês de colo, de suas crianças pequenas, dos
asmáticos e dos diabéticos, dos hipertensos e depressivos.
Não analisará a sua ficha
corrida, seus antecedentes, seus pecados, suas omissões. Não recuará por
palavras bonitas e promessas de redenção.
Não avaliará o tamanho de
suas redes sociais, não consultará o seu extrato bancário.
Não pedirá licença, e nem
sempre avisará que chegou em seu corpo.
Ele não tem olhos, não
tem boca, não tem ouvidos, não tem capacidade de discernimento e julgamento. É
um animal implacável, vai acumulando baixas em sua guerra suja.
E só cresce pela
desinformação, quando você acha que a doença é um exagero da mídia, que a
quarentena é dispensável.
E só cresce pela cultura
do medo. Pois o medo não pensa, é egoísta, passa por cima de tudo, devasta as
prateleiras dos supermercados e das farmácias para apenas ter privilégios.
Enquanto não é encontrada
a vacina, o único antídoto do vírus é a empatia: usar somente o que precisa,
viver com o que é fundamental.
Ainda em condições
adversas, ainda que isolado, preocupar-se como o outro está. Cuidar de si e de
quem sequer conhece, pelo simples fato de ser morador da mesma cidade.
Fortalecer os amigos com
a saudade e as lembranças dos dias felizes. Manter a doçura da voz. Converter a
fragilidade em delicadeza. Renovar o poder e o significado da esperança.
Não deixar jamais que as
particularidades das pessoas sejam transformadas em números impessoais de
infectados e de mortos.
As ruas estão vazias, que
o coração permaneça cheio.
Qualquer perda é
importante, qualquer vida é valiosa, o vírus nunca se importou com ninguém para
entender a força do apego, a força do amor.