"Ando no rastro dos poetas, porém descalça... Quero sentir as sensações que eles deixam por ai"



sábado, 30 de novembro de 2019


Hoje, como nunca, desejei que meu dia tivesse algumas horas a mais. Tantos afazeres: compromissos - que não serão cumpridos; tarefas que não serão executadas - leituras obrigatórias; coisas indesejadas que me fizeram ansiar por aquelas cujo prazer me foge – leituras deleitosas, família, filhos, sorrisos, criação em verso e prosa.

Costuma-se dizer que o tempo é objeto de luxo. Temos, constantemente, a sensação de que ele, de alguma forma, sempre nos falta. A rotina diária ilude nossa mente, condiciona-a a fazer coisas, automaticamente, roubando-nos a percepção do próprio tempo.

Diz-se que certas atividades podem ludibriar essa propriedade, como, por exemplo: vestir-se olhando para o espelho, usar o relógio no outro braço, que não o de costume, pentear o cabelo com a mão esquerda, se for destro, enfim, mudar a rotina.

O problema é que depois de algum tempo todas essas coisas podem tornar-se rotina. Então, o que fazer? Já não me penteio, parei de usar relógio e me ocorre a possibilidade de não usar mais roupas.

Precisava distrair a mente. Peguei uma poesia, que abordava a questão do tempo, e dediquei alguns minutos, os quais teriam de prestar contas mais tarde, a meditar sobre sua mensagem. Não era a primeira vez que subia ao templo de Chronos para reclamar-lhe a presença. Tenho feito muito isso nos últimos anos.

Lembrei-me de quando eu tinha tempo para não pensar em nada. Minha riqueza era sua complacência e não importava o quanto se tinha a esperar ou perder, o tempo me fazia entender. O que importava era o agora e o caminho a seguir, sem receios do que viria à frente.

Mas o tempo é paciente, mais do que todos nós, que somos tão de repente. Nós crescemos, ele não; às vezes, nos perdemos; não do seu olhar. Permitimos por nossas mãos escapar e tentamos o aprisionar, ingenuamente, numa máquina de registrar. O tempo é paciente, mais do que todos nós, que somos tão de repente. Ele também nos fez reféns da nossa própria máquina de contar. Agora, zomba de nós, dia a dia, sem parar. E nessa batalha inglória, o vemos, sempre para frente andar, enquanto ele observa, paradoxalmente, em nós, o tempo sempre voltar. Como se nos oferecesse uma nova chance de recomeçar.

Talvez, o melhor mesmo seja seguir a velha receita horaciana, que subjugou o poder do tempo, com tamanha maestria, e se eternizou, por meio da célebre expressão: “CARPE DIEM”. Pois é, não há como dominá-lo. Não há como dominarmo-nos. O tempo urge! Urge, ainda mais, nossa vontade de viver.

por André Luis Pullig Viana