Hoje, como nunca, desejei
que meu dia tivesse algumas horas a mais. Tantos afazeres: compromissos - que
não serão cumpridos; tarefas que não serão executadas - leituras obrigatórias;
coisas indesejadas que me fizeram ansiar por aquelas cujo prazer me foge –
leituras deleitosas, família, filhos, sorrisos, criação em verso e prosa.
Costuma-se dizer que o
tempo é objeto de luxo. Temos, constantemente, a sensação de que ele, de alguma
forma, sempre nos falta. A rotina diária ilude nossa mente, condiciona-a a
fazer coisas, automaticamente, roubando-nos a percepção do próprio tempo.
Diz-se que certas
atividades podem ludibriar essa propriedade, como, por exemplo: vestir-se
olhando para o espelho, usar o relógio no outro braço, que não o de costume,
pentear o cabelo com a mão esquerda, se for destro, enfim, mudar a rotina.
O problema é que depois
de algum tempo todas essas coisas podem tornar-se rotina. Então, o que fazer?
Já não me penteio, parei de usar relógio e me ocorre a possibilidade de não
usar mais roupas.
Precisava distrair a
mente. Peguei uma poesia, que abordava a questão do tempo, e dediquei alguns
minutos, os quais teriam de prestar contas mais tarde, a meditar sobre sua
mensagem. Não era a primeira vez que subia ao templo de Chronos para
reclamar-lhe a presença. Tenho feito muito isso nos últimos anos.
Lembrei-me de quando eu
tinha tempo para não pensar em nada. Minha riqueza era sua complacência e não
importava o quanto se tinha a esperar ou perder, o tempo me fazia entender. O
que importava era o agora e o caminho a seguir, sem receios do que viria à
frente.
Mas o tempo é paciente,
mais do que todos nós, que somos tão de repente. Nós crescemos, ele não; às
vezes, nos perdemos; não do seu olhar. Permitimos por nossas mãos escapar e
tentamos o aprisionar, ingenuamente, numa máquina de registrar. O tempo é
paciente, mais do que todos nós, que somos tão de repente. Ele também nos fez
reféns da nossa própria máquina de contar. Agora, zomba de nós, dia a dia, sem
parar. E nessa batalha inglória, o vemos, sempre para frente andar, enquanto
ele observa, paradoxalmente, em nós, o tempo sempre voltar. Como se nos
oferecesse uma nova chance de recomeçar.
Talvez, o melhor mesmo
seja seguir a velha receita horaciana, que subjugou o poder do tempo, com
tamanha maestria, e se eternizou, por meio da célebre expressão: “CARPE DIEM”.
Pois é, não há como dominá-lo. Não há como dominarmo-nos. O tempo urge! Urge,
ainda mais, nossa vontade de viver.
por André Luis Pullig
Viana