A morte não é para
amadores. A morte não pede para você guardar os óculos antes de bater em sua
cara. A morte não se intimida se é idoso ou uma criança. A morte é implacável e
não espera que você prepare um discurso de adeus - os outros terão que se virar
com as palavras ditas e as lembranças esparsas. A morte dói duas vezes: para
quem parte sem saber e para quem fica sem compreender o sumiço. A morte desidrata
a alma.
A morte não lhe poupa das piores notícias, diz de uma vez, grosseira. A
morte vai tirando quem você mais gosta de repente e deve se virar com o luto. A
morte é a solidão da memória. A morte não respeita Dia dos Pais ou das Mães e
leva o seu pai e sua mãe no meio da comemoração.
A morte não poupa sequer
o aniversário de alguém. Não aguarda que soprem as velas, que vire o pêndulo da
meia-noite, que se abram os presentes. Ela não ama ninguém para dar desconto,
sobrevida, perdoar atrasos.
A morte tem inveja da
vida. Parece que ela nos obriga a ser feliz sem pensar muito no futuro, sem se
demorar para responder os afetos, sem adiar os sonhos. A morte grita em nossos
ouvidos: faça agora antes que seja tarde.
#Gugu Liberato