Outubro chegou e não te
escrevi.
Sei que deveria, sei que supostamente é o que todas nós fazemos nesse
mês.
Lembramos de você, o
quanto foi difícil a nossa convivência e tudo aquilo que aprendemos com a sua
passagem.
Mas eu não queria. Não
quero mais. Não quero falar de você, escrever pra você, pensar em você.
Quero deixar sua
lembrança no canto da sala, meio esquecida em algum cômodo, pouco a pouco
desfazendo-se entre as novas memórias que criei desde que você foi embora.
Não conto mais sobre você
entre copos nas conversas de bar. Se me perguntam, explico, mas tenho escolhido
te deixar lá no fundo do meu mar de sentimentos.
Não é medo não, nem falta
de respeito. Não é que eu não enxergue mais o seu valor ou não queira mais
ajudar alguém caso eu possa.
É só amor por mim e por
todos os dias que estou viva desde que você se foi. A vida agora é sobre isso,
e você, meu bem, é passado.
Quero contar sobre tudo
de bonito que há no meu agora.
Quero contar a todos
sobre como eu gosto de afundar os pés no manguezal em frente à praia onde eu
moro e sentir a terra entre os dedos.
Quero contar como é
planejar a vida de acordo com a maré e organizar os horários de acordo com os
ventos que vem do Sul.
Quero contar como as
pessoas aqui são amáveis e simples, e mesmo quando elas não entendem o que eu
digo, elas sorriem pra mim.
Quero contar que ainda
não sei bem o plano pro futuro, mas todo dia acordo e lembro de ser grata ao
presente.
Querido câncer, eu estou
em paz com a sua memória. E assim como quando termina-se um relacionamento onde
ainda há amor, você sempre será parte de quem sou.
Feliz Outubro e todos os
outros meses entre nós.