Conscientemente ou não,
todos nós sentimos necessidade de deixar a nossa marca: uma vida passada em
branco não empolga. Alguma coisa de nós tem que permanecer, e a feitura de
filhos tem dado conta deste propósito, mas, depois de tê-los, descobrimos que
filhos não são uma extensão de nós, e sim criaturas independentes. Não servem
de dedicatória para o mundo.
Uma vez escrevi sobre as
pichações que vemos estampadas tanto em muros baixos quanto em prédios altos.
Há uma quantidade enorme de jovens que se arriscam para desenhar ou escrever
qualquer bobagem, em lugares bem visíveis, sem se importar com a imundície e
com a violação do espaço público. É a dedicatória deles: “Para a cidade,
com o meu desprezo”. Grafiteiros, ao contrário, são artistas, deixam sua
marca para a cidade com criatividade e brilhantismo. O pichador deixa um
recado, apenas: também existo, mesmo que você não me veja nem saiba quem sou.
Tenho me perguntado a
razão de a violência urbana continuar aumentando. Tráfico de drogas, pouco
investimento em educação, ausência de policiamento, corrupção, famílias
desestruturadas, cultura desprestigiada, ignorância. As explicações trafegam
por este universo de carências e deságuam no ego: todos se sentem especiais e
querem que o mundo os conheça. Há duas maneiras de existir: fazendo coisas bem
feitas ou coisas malfeitas, sendo produtivo ou sendo destrutivo, respeitando as
leis ou desafiando-as. Seja qual for o caso, chamar a atenção é o objetivo.
A violência, mesmo quando
acontece entre quatro paredes, mesmo quando é contra uma única pessoa, ela
atinge a sociedade inteira. É, portanto, uma assinatura. Estamos vivendo com
tão poucas oportunidades de realização que a brutalidade é hoje um ato
desesperado para se tornar visível. E, como se sabe, é mais fácil ser ruim do
que ser bom.
“Foi tudo muito rápido”, dizem todos os que testemunharam uma tragédia. É rápido mesmo. A pulsão do mal é instantânea, desestabilizar não requer nenhuma sofisticação, nenhum nível de consciência, nenhum preparo. Um soco, um tiro. Tá feito.
“Foi tudo muito rápido”, dizem todos os que testemunharam uma tragédia. É rápido mesmo. A pulsão do mal é instantânea, desestabilizar não requer nenhuma sofisticação, nenhum nível de consciência, nenhum preparo. Um soco, um tiro. Tá feito.
A paz vem da sensação de
termos uma identidade própria e de sermos reconhecidos por ela. Deveríamos
bastar para nós mesmos, fazer aquilo que consideramos certo e justo sem se
preocupar com a opinião alheia, mas a indiferença é a pior das solidões.
Queremos que os outros vejam o que sabemos fazer, e se não houver oportunidade
de trabalhar, de realizar um projeto elogiável, de praticar um esporte, de
fazer parte de um grupo bacana e manifestar as próprias ideias, a pessoa não
ficará em casa curtindo sua invisibilidade. Ela fará o outro enxergá-la na
marra, nem que seja provocando dor.