Hoje a maioria das pessoas que têm acesso à
informação sabe que é peruíce usar uma blusa de paetês às duas da tarde e que é
deselegante comparecer a um casamento sem gravata. Costanza Pascolato, Gloria
Kalil e Claudia Matarazzo são algumas das jornalistas especializadas em ajudar
os outros a não cometerem gafes na hora de se vestir ou de se portar à mesa.
Mas existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja
cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos
talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma
gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora
de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa
alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam
mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando
falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam
um tom superior de voz ao se dirigir à empregadas domésticas, garçons ou
frentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem
prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por
assuntos que desconhece, é quem dá um presente sem data de aniversário por
perto, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à
secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está
ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante. É elegante
não ficar espaçoso demais. É elegante não mudar seu estilo apenas para se
adaptar ao de outro. É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos
informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade.
Sobrenome, jóias e nariz empinado não
substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão
generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. Pode-se tentar
capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é
improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de
conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso
lado brucutu, que acha que “com amigo não tem que ter estas frescuras”. Se os amigos
não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão um dia
desfrutá-la. Educação enferruja por falta de uso. E, detalhe: não é frescura.