Talvez o assunto esteja esgotado em termos literários. Ainda haverá o que escrever em poemas, crônicas, romances e contos sobre essa experiência transformadora e inigualável, para algumas deslumbrante, para outras apenas inconveniente, assustadora ou trágica? Haverá ainda algo que não se conseguiu descrever em todos os livros do mundo? Por outro lado, essa experiência tão diferente para cada uma, que pode ir de êxtase e euforia a amargura, tem sido objeto de milhares e milhares de esforços para reproduzi-la em frases faladas, escritas, cantadas, por toda parte – talvez desde sempre.
Acho que não há muito mais a dizer, e raramente escrevo sobre
datas. Mas esta me agrada, e, sim, gosto do Dia das Mães. Gosto de qualquer
celebração que renove nossos pensamentos e emoções. Comercialização de
sentimentos? Só pra quem leva a vida como consumo, mede amor pelo gasto e
precisa, quem sabe, encobrir suas culpas com visita, telefonema ou presente.
Na vida dita normal (sem discutir o que é isso) nas relações
amorosas, entre as quais a de mãe e filhos se inclui, claro, nem tudo é
dramático e transcendental. Quase sempre fica entre aquele curativo e beijo na
hora do joelho esfolado, noites sem dormir junto da criança doente, colo na
hora do coração partido, risadas juntas nas aventuras cotidianas, segredinhos
bem guardados, olhar vigilante procurando não intervir nem aborrecer, amor
desmedido querendo não oprimir. Mais a chatice inevitável “bote o casaquinho,
não fale de boca cheia, não bata no seu irmão, respeite os outros, volte cedo,
olhe com quem anda saindo, se cuideeee!!!”. O mais difícil: corrigir sem
humilhar, proteger sem enfraquecer, estimular sem iludir. (E ainda tem aquela
culpa obtusa que nos assalta mesmo se o filho quebra o pé escalando o Everest:
por que não cuidei dele?)
Assistir (discretamente) aos voos que se pode divisar, no
resto rezando e torcendo, e sendo otimista: a cria vai dar certo, seja lá o que
isso signifique. Não vai quebrar demais as asas e a cara, não vai sofrer
demais, vai ser um ser humano decente e bom, e bem-sucedido nas suas escolhas,
sejam de profissão, de parceiro, de modo de vida. A gente recebendo um
telefonema, um whats, uma visitinha, pra se certificar de que afinal está tudo
bem – e ficar feliz da vida.
Mas há as maternidades atormentadas: filho doente, filho
viciado, filho perseguido, filho acidentado, assassinado, filho fazendo
escolhas negativas, filho precisando de coisas que não se pode dar porque o
dinheiro não chega, enfim, filho sumido no mundo ou na morte. Isso, não há
palavras que expliquem, então sobre isso me calo, por profundo respeito.
Termino com minha tripla experiência de maternidade: euforia
e assombro, cada vez que de mim saiu um ser humano, uma pessoazinha – e a cada
vez pensei e disse em voz alta, sem querer: “Mais uma pessoa no mundo”.
Isso me impressiona e comove até hoje: cada um é uma pessoa,
com sua personalidade, suas decisões, sua vida, sua morte. Pouco vou poder
interferir. Procurar não estorvar já é difícil. Mas posso fazer com que saibam
que, seja como for, onde, quando, a mãe vai estar sempre do seu lado, muitas
vezes sem entender direito, muitas vezes desajeitada, muitas vezes impotente,
mas, inteiramente, um colo, um abraço, e um amor que nenhuma palavra de nenhum
idioma poderia definir.