Estereótipos precisam ser
revisados de tempos em tempos. O da madrasta má felizmente está com o prazo de
validade vencido, mas ainda assim pouco se fala no modelo que a substituiu: o
da madrasta boa gente, aquela mulher madura que não tenta substituir a mãe de
seus enteados e sim contribuir para que eles se sintam emocionalmente
amparados.
Muitas madrastas são
mães: tiveram seus próprios filhos no primeiro casamento e, entrando numa
segunda relação, se depararam com a experiência de conviver com os filhos de
seu novo marido. Não é uma tarefa mole, pois são crianças ou adolescentes que
passaram pelo trauma da separação dos pais e não estavam exatamente ansiosos
para ver uma nova pessoa entrar para a família.
A atual mulher do pai
chega sempre como uma intrusa, mas havendo bom senso na distribuição dos
papéis, logo ninguém se sentirá ameaçado e o novo núcleo se forma: os meus, os
teus e, quem sabe, os nossos - no caso do novo casal querer ter um filho em
comum. Até aí, tudo certo, é um arranjo equilibrado. Mas tenho pensado naquela
mulher que sempre sonhou em engravidar e ser mãe, que alimentou esse desejo
desde garota, e que um dia conhece o homem da sua vida: um cara que já teve os
filhos que gostaria durante o primeiro casamento e que não cogita ter mais um.
“Como não cogita? Que egoísta!” podem bradar algumas colegas de auditório, mas,
convenhamos, um homem de meia-idade talvez não deseje um novo bebê.
Algum direito esses
pobres portadores de cromossomos XY ainda têm. A mulher talvez pegue sua bolsa
e vá bater em outra freguesia para realizar o sonho de ser mãe biológica — e
deve fazer isso mesmo, caso não tenha a menor vontade de se adaptar às
circunstâncias.
Mas se ela resolver ficar
com este homem, poderá transferir todo seu potencial de afeto para os filhos do
seu grande amor, não a fim de ocupar o espaço da mãe deles, mas a fim de
inaugurar um novo espaço para si mesma - um espaço que exigirá cuidado,
paciência e muita dedicação. Não é uma maternidade legítima, mas é uma
experiência familiar e sentimental que também costuma impactar a vida de todos
os envolvidos.
A elas, essas mulheres
que abriram mão do seu desejo ancestral de ser mãe a fim de preservar o seu
ideal romântico (o de não procurar um reprodutor, e sim manter uma relação
amorosa com o homem pelo qual se apaixonaram e com os filhos dele), o meu mais
profundo respeito. Feliz dia das mães que, do jeito possível, vocês também se
tornaram.