Quando o filho enfrenta
um divórcio, a mãe quer sofrer mais do que ele.
Ela não lamenta que ele
está sofrendo, ela destaca que ela está sofrendo muito.
Em vez de tranquilizá-lo,
trata de acentuar o desespero.
- Eu não merecia passar
por mais esta infelicidade!
Realmente acredita que o
desenlace atingiu sua honra.
Exagera o drama,
potencializa a tragédia, classifica um simples desentendimento como impasse diplomático.
Como o filho não
esclareceu o que ocorreu, justamente com medo da fofoca, ela tem toda a
liberdade para inventar os fatos e concluir por conta própria.
Daí joga a pá de cal no
romance. A ex acreditará que ele meteu a língua nos dentes quando, na verdade,
nem abriu o bico. A mãe enterra a nora viva. Se possível, com a sogra junto.
A difamação partirá da
imaginação materna sem limites, feita na melhor das intenções. Cola pedaços de
conversa, gruda insinuações e emite um veredito arbitrário do fim do amor.
Converterá o luto do
filho, sua discrição triste e silenciosa, seu acanhamento reflexivo, em
programa de auditório.
Como ele não pode se
defender de nada, muito menos dela, abusa do microfone.
Aproveita o momento em
que ele não tem condições de falar para falar por ele. Atende ao telefone,
caminha no bairro, conduz eventos familiares como a porta-voz recém-empossada
do divórcio.
O porteiro do prédio será
o primeiro a saber - pois o porteiro do prédio é o marido espiritual da mãe
solteirona.
Ela não deixa esfriar a
ruptura, não permite tempo das pazes, um intervalo para cicatrizar as feridas,
faz questão de incendiar o resto para que os dois nunca mais voltem.
Não oferece paz e
sossego, e sim escarcéu e suspeita
Põe o remédio na língua
no instante de narrar o episódio, diz que não vai aguentar, chora pela família
destruída, ainda mais se tem criança no meio.
Separação dos filhos para
as mães é melhor do que morte, já que não têm que pagar enterro.
Ela conta para o mundo
inteiro que o filho se separou, explica aos amigos os capítulos do dia anterior
da novela, recebe as condolências em nome dos envolvidos. Não cumprimenta mais
direito as pessoas, já sai informando: - Bom-dia, meu filho se separou...
Estraga qualquer
reconciliação criticando a ex-mulher, sugerindo que o filho foi corneado. Não
dá para entender como toda mãe torce para que o filho seja corneado. É uma
adoração pela hipótese da infidelidade, quando na maioria das vezes não é o caso.
Propaga a teoria com objetivo de comprovar de que nenhuma mulher mais presta,
somente ela.
É a mãe porta-de-cadeia.
O filho errou, pisou na bola, infernizou a vida da outra, mantinha amante, mas
será sempre um santo, um injustiçado pelo amor.
Na hora de se separar,
pense no poder de fofoca de sua mãe. Com certeza, ajudará muito a permanecer
casado.