Um dos personagens jornalistas do seriado
“Newsroom”, diz para a sua colega de trabalho que vive se separando do
namorado: “Vocês precisam aprender a brigar direito”.
É um conselho que deveria ser levado para o
ouvido do noivo e da noiva ao pé do altar: aprender a brigar direito é reduzir
os danos e evitar as rupturas (e desgastantes reconciliações).
Briga boa é discussão curta, sem tempo para
envolver outras pessoas e com espaço reduzido para não produzir ressentimentos.
É falar o que feriu, explicar o ponto de vista, ouvir o contraponto, acolher as
desculpas e seguir em frente, sem o risco de retaliações e excessos. Dependendo
do que aconteceu, um longo telefonema ou um chimarrão ao entardecer resolve a
pendenga.
Briga boa é aquela que não sai de casa,
permanece dentro do círculo do relacionamento, a portas fechadas. Não vira
cobrança, sermão e dívida. Mágoa longa sempre gera fofocas e opiniões
incontroláveis de terceiros.
Briga boa não deve ultrapassar 24h, pois o
mal-estar faz vítimas rapidamente. Nem todos têm paciência para ruminar
desentendimentos. O suspense pela paz desperta o pessimismo nas almas amorosas.
É duro controlar a ansiedade. O tema só chegará ao terapeuta depois de passar
pela comunidade inteira.
O ideal é ter simplicidade para falar o que
incomoda, não dependendo de conversas sérias e avisos de despejo.
Saber brigar é solucionar o impasse procurando
as palavras certas, respirando fundo, prevenindo-se das agressões gratuitas,
cuidando para não recorrer a afastamentos.
Ao banalizar o término, estará abrindo caminho
para chantagens cada vez mais pesadas.
Briga boa significa preservar o seu par de
algumas ofensas. Ultimatos são perigosos e costumam ser aceitos no momento de
raiva. Desaconselhável desafiar a sua companhia com o fim – apressando a chance
de ela fazer as malas.
Afinal, na gritaria, é o orgulho que manda,
jamais o amor.
Briga boa é manter o foco de tudo o que é
vivido a dois, e não apenas sublimar um momento ruim. Acima de tudo, cabe a
delicadeza de trazer o contexto do romance à tona, o dia anterior, a sequência
da intimidade. Fica mais fácil compreender a falha diante do conjunto da obra.
Ninguém está livre do erro, do engano e da
distração. Brigas são desabafos. Não distorça a sua natureza catártica para um
desproporcional acerto de contas.
Briga boa é, depois de reclamar, devolver a
esperança com um beijo e um abraço apertado.