Outro dia vi , talvez no
meu Face, esta frase: “Quando tudo dá certo, a gente diz ´Beleza!’. Quando dá
errado, se diz ´Paciência!`”. Como tantas dessas frases soltas na rede social,
essa me pareceu divertida e verdadeira. Outras, muitíssimas, são bem tolas, sem
fundamento, preconceituosas ou ainda arrastando, depois de mais de um mês, as
disputas e insultos políticos.
Sim, quando dá certo, a
gente fica tranquilo, ou eufórico, dá graças a Deus (um amigo médico reclamou:
“Agradecem a Deus, está certo, mas e nós, médicos, em geral só nos citam em
participações fúnebres”). Há quem agradeça, mas enfim... Deus ajudou, quando
nos salvamos, Deus quis quando alguém amado morre. Somos simplistas talvez para
aguentar a montanha-russa da vida.
Sempre tive pouca
paciência, sobretudo para aprender coisas. Fui uma estudante esquisita, eu
acho, sabendo muita coisa, porque lia loucamente, e ignorando outras, básicas,
por falta de capacidade ou paciência para me concentrar. O bom professor de
matemática que me deu aulas particulares anos a fio certo dia disse a meu pai,
constrangido: “Doutor Arthur, a sua filha é muito inteligente, mas comigo não
aprende mesmo. Eu explico, explico, ela fica me olhando com aquele jeito meio
distraído, e vejo que, de verdade... não entendeu nada”.
Outro professor, já na
faculdade, brincava dizendo que eu aprendia “pra trás”, isto é, se não pegava
logo pela intuição, já desistia do esforço de aprender. Sonhadora e preguiçosa,
eu não queria saber quantos metros de trilhos tantos operários fariam em tantas
horas, ou quantas maçãs caberiam num cesto se... Ali não valiam nem “beleza”,
nem “paciência”.
Escrevi na coluna
passada, mais uma vez, da minha paixão inata pelas palavras. Vai daí que também
implico com algumas: por exemplo, atualmente, “empoderamento” e “feminicídio”.
Elas são ruins? Não valem? Até que são boas, até que valem porque todos
entendem, mas sobretudo “feminicídio” é de matar e provoca minha maior
impaciência. Dói nos ouvidos. “Homicídio” não bastaria porque se liga a homem?
Que pobreza. Assim, no
populismo atual por este grande mundo, não basta dizer “o homem às vezes sabe
ser genial” porque isso não incluiria as mulheres? Não se atina com o fato bem
simples da linguagem segundo o qual “homem” é agenérico, refere-se a criatura
da raça humana... Como quando dizemos “presidente” de uma empresa, caso seja
mulher, não precisamos criar o termo “presidenta” (ou “presidanta”)...
Eu sei que língua é um
ser vivo, que se modifica segundo fato social que é, e que isso independe, em
geral, da atuação de uma ou mais pessoas. Possivelmente, nas gírias diversas,
alguma celebridade usando um termo ou interjeição, ou mesmo gesto (que é linguagem),
vai criar uma momentânea onda de imitadores. Logo passa. Mas a língua em si,
essa fascinante criatura viva, bela e atroz, poética e cruel, ou inócua e
obtusa, merecia ser dispensada dessa invasão de feminicídios e empoderamentos,
e mais outros da sua turma. Implicância minha, impaciência? Provavelmente.
Ainda bem que, como já disse e repito, sendo ela um ser vivo e livre, não
precisa da minha simpatia ou implicância para continuar.